Muita gente não sabe, mas a areia que usa nos parquinhos dos filhos ou na construção de residências pode ser extremamente poluída. E não estou falando aqui da hospedagem de cães e gatos nômades que usam aqueles montes para se aliviar. Tem muitos depósitos sem-vergonhas por ai que compram o insumo para obras e outros fins de extrações ilegais, feitas nos leitos de rios poluídos por esgotos industriais, domésticos e até pelo necrochorume dos cemitérios – o líquido tóxico que resulta da decomposição dos cadáveres e caixões.
No ano passado fiz uma reportagem sobre isso em Santa Luzia, no encontro do Ribeirão do Onça com o Rio das Velhas. Uma draga funcionava o dia inteiro sugando aquele leito poluído por dejetos da capital mineira. Tanto que a areia que saia pelo tubos vinha negra e só clareava depois que ia secando naqueles montes enormes. Dois senhores humildes, vindos do Vale do Jequitinhonha, ficavam metidos ali dia e noite, com água até a cintura, sondando o fundo do ribeirão com a tubulação plástica. Doenças de pele e cortes nas pernas era o que mais tinham. “A gente tem de ficar cabreiro pra não sugar pedra, caco de vidro, cachorro morto ou de urubu”, me disse um deles.
Todo santo dia os caminhões chegavam lá, estacionavam, eram carregados por tratores e seguiam para a capital, trazendo de volta seu esgoto contido pela areia. Liguei na Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), e me disseram que a atividade não tinha licença. Colocamos na matéria. Ai o dono apareceu, dizendo que tinha sim licença do órgão de controle ambiental do Estado. Como é que a Feam pode autorizar a extração de areia num rio poluído como aquele? Como é que a polícia e o Ministério Público do Trabalho permitem que se manuseie águas tão insalubres sem o devido controle e proteção. E o produto final? Vai continuar a ser vendido sem fiscalização nos depósitos? Como é que as pessoas vão saber sua procedência? Só falta agora termos de rastrear caminhão por caminhão para saber se levamos areia poluída para dentro de casa .
Neste ano mesmo encontramos uma draga que extraía areia de um córrego manso que corria atrás de um cemitério mal cuidado de Betim. Quem garante que a água do córrego não estava contaminada pelo cemitério? Controle não havia. Aliás, raros Cemitério de Minas, e arrisco até dizer, do Brasil, têm Licença Ambiental para funcionar e podem estar poluindo, contaminando e envenenando lençóis freáticos e comunidades inteiras.
Voltando à areia, só neste ano houve duas operações da Polícia Militar do Meio Ambiente para combater a prática na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Uma foi em fevereiro, no Ribeirão Areias, em Ribeirão das Neves. A outra, chamada “Operação Areieiros”, foi no Rio das Velhas (de novo!), em Neves, São José da Lapa e Vespasiano. A ação começou nesta terça-feira (14/07) e parece que já aplicou mais de R$ 100 mil em multas. Para onde será que essa areia poluída ia?
quinta-feira, 16 de julho de 2009
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PROJETO INFILTRADO
- Jornalista Mateus Parreiras
- Repórter do jornal Hoje em Dia, o jornalista Mateus Parreiras cobre o dia a dia do estado no caderno Minas (cidades) e produz também reportagens especiais. Formado em 2004 pelo UNI-BH, e desde setembro daquele ano no Hoje em Dia, o jornalista já conquistou o I Prêmio de Jornalismo de Interesse Público 2007 do Sindicato dos Jornalistas de MG, o Prêmio Crea-MG 2006, Volvo 2006 e foi três vezes finalista do Prêmio Embratel, em 2005, 2006 e 2008.
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