Projeto Infiltrado (Desde abril de 2007)

Será que um Projeto considerado perfeito, acima da Lei e corrupto, já não conta com infiltrações em seu âmago? Ou há um plano de comentar bastidores e posições dos que arquitetam essas manobras, sem filtros e de forma crítica? Pode ser que haja um esquema pronto para infiltrar nesses sindicatos negros e trazer a público o que muitos não sabem por acontecer nesses bastidores. Ao descobrir o significado do Projeto Infiltrado, você pode colaborar para sua própria execução.


domingo, 30 de agosto de 2009

Água suja sobre as cabeças



















Para não dizerem que o blog só mostra ações erradas dos serviços públicos, eis ai exemplos de falta de educação e cidadania cometidas por cidadãos. Varandas terem lugar para escoar a água das chuvas serve para que elas não se acumulem e abalem a estrutura. Aproveitar disso para lavar com mangueira e sabão, e jogar essa água na calçada, na cabeça dos pedestres, isso é falta de educação. Ontem, na Rua Padre Rolim co Francisco Sales, no Santa Efigênia, os pedestres reclamavam da limpeza desleixada (ou omissa mesmo) de um desses espaços. A água branca escoava do alto espirrando para todos os lados em quem passava.

É infração ao capítulo III, artigo 30 do Código de Posturas do município, uma vez que a água suja é considerada lixo e não pode ser despejada em logradouro público. Se flagrado, o responsável é notificado. Se repetir o ato, leva multa que dobra a cada nova autuação. Vamos deixar de preguiça e colocar o pano úmido no rodo!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Festival de Tiradentes é charmoso, mas ainda sem estrutura para o grande público


Grupo trazido pela Bohemia alegrou a tarde
nas ruas, mas a estrutura deixou a desejar

Ainda falta muito para que o Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes, na cidadezinha que fica a 200 quilômetros de Belo Horizonte, possa emplacar de vez no rol dos circuitos nacionais mais badalados. Os investimentos ali ainda são bem tímidos e superficiais. Tudo se resume à disposição dos patrocinadores. Sem estímulos de vulto à cultura , como os que vemos em outras modalidades, o evento perde em qualidade e apelo turístico.

Começa pela confusão no tráfego de automóveis. Gente estaciona nos dois lados de vias que são mãos-duplas e deveriam ser de apenas um sentido. O que teve de carro esbarrando em outro, retrovisor dependurado e gente que dirigiu por mais de 6 horas, para depois ficar no acelera e freia das ruelas apertadas, não foi brincadeira.

Ah! Que crítica maldosa! Tiradentes é uma cidade histórica! As vias são apertadas mesmo e não podem (nem devem) mudar, não é? Mas, por que não se amplia o perímetro central onde não podem circular veículos e se destina certas vias a servir apenas como ruas de um só sentido? Isso dá para fazer, pois era só sair do epicentro das comemorações que se podia trafegar livremente. Melhor ainda para os pedestres percorrerem bares e andarem nas charretes cor-de-rosa. Faltam também mesas nas praças e nas villes abertas em espaços públicos para acomodar mais gente e produzir menos filas nos espaços principais.

O esgoto é um problema seríssimo e não, não, não e não combina com evento gastronômico. Tem um riachozinho que corta a cidade em vários pontos e exala um mau cheiro horroroso, pior do que em certos mangues na chegada do Rio de Janeiro. Me fez lembrar até de um curso d'água que existe na Vila São José, em Belo Horizonte, que os moradores da favela apelidaram “Rio Bostinha”. Pois é. O Rio Bostinha de Tiradentes embrulhava estômagos dispostos nos restaurantes e bares à sua beira.

Não foram poucos os casais que fizeram lindos pratos e seguiram sorridentes para o romântico quintal da casa para assentar à beira do córrego barrado em pedras e pontes coloniais. Chegando lá, os narizes logo ardiam e o romance ia por água abaixo.

Para piorar, faltava um convênio com o Senac, Divina Providência, sei lá. Qualquer uma das várias entidades que preparam mão-de-obra e empresários donos de restaurantes. Fui em vários deles e uma porção de pequenos detalhes importunava os turistas ávidos por experimentar os quitutes.

Em tempos de gripe suína, pegadores de saladas eram usados por centenas e depois dispostos por sobre as folhas e legumes, decorados por brilhantes impressões digitais. No box da cerveja Bohemia, onde se degustava quatro tipos da bebida e se aprendia sobre sua fabricação, os visitantes eram encorajados pelos expositores a meterem a mão em potes com cevada para comerem do grão, um seguido do outro. Fora os gemidos. “Ais” e “uis” de dor de quem queimava os dedos nos cabos quentes das colheres esquecidas nas panelas que dormiam sobre os fornos a lenha.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Soluções para a invasão de flanelinhas

Um dos temas centrais debatidos pela 3ª Conferência Municipal de Políticas Urbanas, em Belo Horizonte, foi a situação dos flanelinhas. Eles foram duramente criticados pela Prefeitura e representantes dos setores imobiliário e comerciantes. Além da extorsão que muitos deles praticam contra os motoristas, foram ainda acusados de reduzir a arrecadação do estacionamento rotativo, pois inserem o cartão nos carros quando os ficais chegam. Isso impede a rotatividade nas vagas, o que é ruim para os comerciantes já que desestimula a vinda de fregueses para uma área onde nunca dá para estacionar se não entrar no esquema.

Sem contar a abordagem truculenta de alguns. Intimidam condutores em troca de dinheiro para vigiar seus carros. Outros que fingem ser esse tipo de trabalhador para traficar drogas e cometer crimes. Eles se escondem sob o disfarce de lavadores de carros, uma atividade que é permitida pela mesma prefeitura que deu guarida aos contrabandistas em camelódromos.

Nesse sentido, observei duas políticas muito interessantes e que poderiam ajudar a resolver o problema dos flanelinhas, guardadores de carros, lavadores de automóveis, escondedores de drogas e produtos furtados em bueiros, achacadores e afins. A primeira ideia é bem simples. Nosso secretário de Políticas Urbanas, Murilo Valadares, disse que a atividade dos flanelinhas não é criminosa, porque não é considerada assim pela Lei. No meu intender, a ação dos flanelinhas seria, então, no mínimo, ilegal. Explico. Eles estão nas vias públicas, onde oferecem limpeza de automóveis, sendo extremamente territorialistas. A atividade não paga impostos, não tem alvará, licença ambiental, estudo de impactos ou de viabilidade. Por tanto, o mínimo que deveria ocorrer é uma concorrência pública para as áreas onde eles atuam.

Os trechos seriam licitados e, aquele que oferecer um serviço com menor impacto, cobrar menos à população e pagar os tributos devidos, pode ficar nas ruas, tranquilamente. A vantagem é que os vencedores da licitação se transformariam nos próprios fiscais da atividade e das ruas, como um comerciante regular. Se achacar alguém e for denunciado, perde seu direito e outro entra no seu lugar. O contrato deveria ter uma rotatividade mínima. Digamos de uns 4 anos.

Outra solução pode ser uma medida adotada no centro da cidade de Pedro Leopoldo, aqui na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). Lá a prefeitura instalou parquímetros eletrônicos. Só que são agentes da prefeitura nas ruas, dentro do perímetro das vagas, quem vendem as chaves com créditos em horas ou minutos. Dessa forma, os flanelinhas desapareceram. A administração do município passou a receber um incremento de verbas mais do que suficiente para financiar os agentes nas ruas.

Muito radical? Que seja então feito concurso ou licitação entre os flanelinhas para que eles vendam o tal lacre. Não vejo sentido numa reserva de mercado para mão-de-obra desqualificada.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Avião caro em vez de projeto nacional e incentivo

Fotos: 13ª Cia INd MAT





























Por meio de um convênio com a Aeronáutica israelense o Ministério da Justiça vai produzir, até 2014, 15 Veículos Aéreos Não-Tripulados (VANS) para patrulhar as fronteiras e avaliar outros crimes de forma sorrateira, pelo ar. A grosso modo, são aviões de controle remoto equipados com câmeras capazes de registrar placas de automóveis e rostos de procurados ou suspeitos. Até ai muito bom, melhor do que usar policiais infiltrados por todos sacrifícios que isso gera. O problema é o custo. Seriam mais de R$ 40 milhões, ou 10% do que o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pro­nasci) prevê para aparelhamento das forças de segurança pública no país.

Será que não poderíamos investir em projetos e protótipos nacionais para reduzir essa cifra? Aqui em Minas Gerais mesmo, nossa 13ª Companhia de Meio Ambiente e Transito, da Polícia Militar de Barbacena, na Região Central, desenvolveu um sistema parecido, porém, mais simples, com o orçamento que é muito limitado, inclusive pela ampla região que precisam cobrir e a falta de homens. Ou seja, apostaram na inovação sob riscos de perderem verbas para combustíveis e manutenção dos veículos, e conseguiram bons resultados.

O aparelho chama “asa voadora” e é como uma asa-delta com um pequeno motor de 750kv e uma hélice. Transporta uma micro câmera digital com resolução de 500 linhas, que transmite em tempo real para um notebook. Um policial controla a máquina a 1,5 quilômetro de distância e ela tem autonomia de 30 minutos de voo. Custo do equipamento? R$ 2mil. Menos do que um dia de voo de um helicóptero, que é de cerca de R$ 2,5 mil, segundo o cálculo do oficial que desenvolveu o projeto, major Cláudio César Trevisani.

Com esse equipamento a PM monitora queimadas, derrubadas ilegais e outros crimes ambientais em Minas Gerais. A Polícia Federal, que vai receber os modernos VANS, poderia se inspirar na simplicidade dos policiais ambientais e promover a indústria aeroespacial brasileira, que tem gigantes como a Embraer e o ITA e é perfeitamente capaz de desenvolver um equipamento satisfatório, por menos e em menos de 5 anos. Aqui na Universidade Federal de Minas Gerais e no Cefet/MG, os estudantes estão sempre desenvolvendo aeronaves rádio-controladas para competições estudantis. Por que não usar desse potencial? Ou será que os policiais pretendem fazer o mesmo uso dos equipamentos norte-americanos, que carregam também armas?

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Mau exemplo que vem de cima



















Na esquina e em cima da faixa de pedestres senhor policial?










Carga e descarga! Não pode estacionar! O espaço é necessário para os caminhoneiros não fazerem filas duplas e congestionar o trânsito.


Não adianta. Foi só falar de como as pequenas coisas erradas que fazemos no dia-a-dia deixam o mundo pior para vivermos em sociedade que flagro mais um péssimo exemplo disso nas ruas. Subindo a Avenida do Contorno, em Belo Horizonte, rumo ao Bar do João, no Savassi, onde encontraria amigos, dei de cara com duas viaturas da Polícia Civil estacionadas de forma irregular, bem em frente ao edifício sede da corporação. Uma delas estava parada na zona exclusiva de carga e descarga. A outra, 7 metros antes, fez ainda mais feio. Parou na quina da esquina, sobre a faixa de pedestres. Quem tinha de dar o exemplo, pois gerencia o Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran-MG), faz um papelão desses numa das mais movimentadas avenidas da cidade. E olha que estava admirado com o trabalho da Polícia Civil, que conseguiu desmantelar um esquema que trazia grandes quantidades de pasta-base de cocaína de Rondônia para Belo Horizonte. Um belo trabalho investigativo que culminou com a prisão de 14 pessoas, entre eles empresários de fachada. Ai o cidadão sai na rua e vê que as viaturas estacionam do jeito que querem, sem se importar com as Leis que juraram zelar. É de matar.

E a Empresa de Transporte e Trânsito da capital (BHTrans)? Cadê ela? Porque não multa as viaturas como faz com os carros de quem também estaciona em local proibido?





























Ah! Esqueci! A BHTrans também não fica atrás. Seus fiscais são mestres em estacionar onde não pode, inclusive no exercício de multar. Essas fotos ai foram tiradas no Centro, pelo meu primo Leandro. Segundo ele os fiscais estavam multando adoidado, mas esqueceram de notificar as suas motos, que estavam irregulares, já que a própria placa diz que essa categoria de veículo não pode parar ali em nenhum horário.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Matéria sobre os refugiados que fogem para o Brasil



Essa foi uma reportagem que fiz em 2007 e republico porque soube que ocorreram novos conflitos na Bacia do Rio cacarica, na Colômbia, de onde vieram refugiados políticos sofridos que acabaram parando em Minas Gerais.

Abandonados no exílio (03/06/2007)

MATEUS PARREIRAS
REPÓRTER
Eles não podem voltar para sua terra natal. Lá, a morte, a fome e a guerra os aguarda. Assim como milhares de brasileiros perseguidos na época da ditadura militar (1964-1985) foram acolhidos no exterior, 3.492 pessoas de 60 nacionalidades, amaioria africanos, se refugiam no Brasil atualmente. Porém, diferentemente da situação dos políticos, artistas e intelectuais nacionais, os exilados no país passamfome, dificuldades e pouco recebem do Estado. Muitos sobrevivem
graças a instituições humanitárias como a Cáritas, da Igreja Católica, e aOrganização das NaçõesUnidas (ONU).

Oito colombianos abrigados no interior de Minas Gerais, há 5 anos, são um exemplo eloqüente do drama vivido pelos refugiados no Brasil. São agricultores pobres. Mal falam português e só agora conseguiramacesso a documentos como
CPF e carteira de trabalho. O grupo é formado por três homens com mais de 50 anos, duas mulheres de 24 e 56 anos, dois meninos de 5 e 7 anos e uma menina de 10 anos. Vieram da Bacia do Rio Cacarica, no Estado de Chocón, em plena
floresta amazônica, próximo à fronteira com o Panamá.

A terra deles enfrenta conflitos ainda mais graves
que o restante da Colômbia. Além dos confrontos
sangrentos entre exército, milícias paramilitares
de direita, guerrilheiros de esquerda e narcotraficantes,
o povo local ainda é vítima da ganância de
madeireiras, empresas multinacionais e seus mercenários
estrangeiros. Escondidos em Minas, conseguiram,
há trêsmeses, construir umbarraco simples
de tijolos de concreto e telhas de barro, sem
forro, assoalho ou reboco, numterreno cedido pela
Igreja Católica e o Alto Comissariado das Nações
Unidas para Refugiados (Acnur).
Saudade de casa, preocupação com família e
amigos deixados para trás e o temor pela própria
segurança são sentimentos sufocados na dura luta
pela sobrevivência.Mãe de nove filhos, comnetos e
bisnetos, a colombiana Izabel, 53 anos, ao ver as fotos
que guarda, mal consegue falar. “Como mãe, o
que sinto aqui, tão longe, é tristeza”, limita-se a dizer,
com a voz embargada pelo choro contido.
Para não morrerem de fome, os conterrâneos
de Izabel cultivamhortaliças e grãosemplantações
comunitárias, e só agora começam a colher. Contam
também com doações de cestas básicas do
município que os abriga e a solidariedade da Igreja
e daComissão deDireitosHumanos da Assembléia
Legislativa deMinas Gerais.
Tanto a Comissão de Direitos Humanos quanto
a Cáritas identificama falta de trabalho no Brasil
comoomaior obstáculopara a sobrevivência digna
dos refugiados. “Eles têmvontade de trabalhar,mas
falta emprego. Alguns conseguem dar aulas de línguas
ou bolsas de estudo,mas é preciso que o empregador
brasileiro dê oportunidades ou que o Governo
crie políticas”, defende a coordenadora do
Cáritas em São Paulo, Cezira Furtim.
O Comitê Nacional para Refugiados (Conare)
informou que a PF confere, logo que o pedido de
refúgio é feito, uma carteira de trabalho provisória e
uma de identidade até o reconhecido oficial do
Brasil. “Eles devem procurar programas assistenciais
destinados à população, como o Sistema Nacional
de Empregos (Sine), e também entidades civis,
porque têm os mesmos direitos de imigrantes
legais”, afirma a coordenadora do Conare, Nara
Conceição.
“A grande verdade é que as esquerdas não se
preocupam com os refugiados e nem o Governo.
Porque os esquerdistas já foram refugiados, fora,
mas com um tratamento de heróis em Cuba, no
Chile e na Europa, porque lutavamcontra a ditadura.
Mas estes refugiados não. Estes são os pobres”,
afirma o presidente da comissão parlamentar mineira,
deputado Durval Ângelo (PT). De acordo
com ele, a situação dos refugiados, em geral, é precária.
Ele afirma que os jovens africanos, enquanto
estudam, podem conseguir cursos, uma bolsinha
da Fundação Mendes Pimentel (FUMP) da UFMG
e umalojamento. “Osmais velhos não têm nada”.
SegundoDurval Ângelo, os refugiados que vêm
à comissão pedem geralmente uma intermediação
junto à Polícia Federal (PF). O motivo é o temor de
serem deportados. “Aproveitam nosso espaço para
pedir atenção e dignidade aos exilados”. A situação
dos colombianos émais grave. Para o deputado, vivem
uma tragédia. Não são bem vistos pelo Governo,
porque o criticampela exploração damadeira e
falta de políticas. Também não são queridos pela
guerrilha, porque são da paz. “Pagamos passagens
para virem à PF.Minha filha faz a tradução para espanhol
na PF, porque lá não tem intérprete. Ligam
dizendo que faltamcomida emantimentos. Quase
tudo deles foi improvisado pela Comissão deDireitos
Humanos”.



MATEUS PARREIRAS
REPÓRTER
Achegada dos refugiados colombianos ao Brasil, em
2002, foi precedida de intimidações e ameaças. De
acordo com os oito exilados abrigados em Minas
Gerais, o plano de remoção do Governo daquele
país para umacampamento na cidade de Turbo, preparada
para recebê-los, não contemplou a toda a população da Bacia
do Cacarica, próxima ao Panamá.
Quatrocentos e cinqüenta famílias tiveramde fugir para
o Panamá. Só depois, em 2000, com a intervenção de ONGs
de direitos humanos e da ONU, é que foramrepatriados para
Baía Solano. As condições eramdifíceis. Havia fome emedo
pelo cerco do Exército e milicianos paramilitares, supostamente
aliados ao Governo.
Em 2001, o Governo Colombiano se comprometeu a
reassentá-los na terra natal, na Bacia do Cacarica. “Chegamos
lá e estava tudo destruído. Tivemos de reconstruir. Perdemos
a criação e as plantações. Só que as ameaças continuaram.
Ouvíamosgenteda comunidadedizendoquehavia
soldados perguntando se conheciam Jesus, Manuel, Heliodoro
e outros de nós. Sabíamos que iríamosmorrer ousumir
como outros. Passamos a fugir para a selva, comendo peixe,
semdormir dois, três dias” lembra Jesus, umdos oito colombianos
que vive no interior deMinas.
Episódios que ainda atormentamos refugiadosManuel,
65 anos, Heliodoro, 58 anos, Jesus, 52 anos, Izabel, 53 anos e
Gloria, 24 anos. Com medo, todos pedem a não-publicação
de seus sobrenomes. “Somos gente simples. Trabalhadores
do campo. Plantávamos milho, feijão, arroz, batata, banana
e criávamos gado,porco, galinha. Sóque a floresta émuitorica
em madeira e a região fica onde vai passar uma ferrovia
para ligar o Panamá à Argentina e onde o governo quer fazer
um canal entre o (Oceanos) Pacífico e Atlântico”, conta Heliodoro,
marido de Izabel, pai de nove filhos, avô e bisavô.
OrefúgionoBrasil foi concedido comajudada IgrejaCatólica.
O bispo de Campo Grande pediu a Dom Luciano
Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana, que encaminhasse
os colombianos paraMinas Gerais. Numa
terra de propriedade da Igreja, no interior do Estado,
os oito hoje sobrevivem em duas casas humildes
de três cômodosemuma pequena comunidade.
No quintal, plantamhortaliças e criamgalinhas.Um
projeto social domunicípio permitiu que trabalhassem
com a comunidade local em plantações que
abastecem uma escola.
“As coisas ainda estão difíceis. Recebemos cestas
básicas da comunidade,mas nenhuma outra ajuda.
Graças a Deus podemos cultivar milho, arroz, feijão.
Opoucoque conseguimos vender deupara comprar
quatro vacas”, comemora Manuel. Segundo um padre
da região, que auxilia os refugiados, eles tentam
ainda se encaixar em programas sociais do Governo
para sobreviver. “Estamos tentando aposentadoria
para o Manuel e uma bolsa-família para o Jesus.
Uma serralheria se comprometeu aempregarHeliodoro
e Jesus, mas ainda não conseguimos os documentos.
Os filhos estudam na rede pública e aos
poucos aprendem português”, disse.
A esperança de retornar fica nítida na emoção
que eles têm ao rever os retratos dos parentes. “O
contato émuito difícil e caro pelo telefone. Acho que
não volto mais para a colômbia, mas queria que
meus filhos pudessem vir até aqui”, desabafa Manuel.
“Sinto falta do meu povo. Aqui fico tão longe e
sozinha. Estou sempre adoecendo”, conta Izabel,
que se emociona ao ver a fotografia da netinha de
quatro anos. “Minhamais querida, Kely. Eu a vi pela
última vez com 1 ano. Sinto tanto sua falta”, suspira.
O HOJE EM DIA entrou em contato com a Embaixada
da Colômbia em Brasília, no dia 31 demaio.
O segundo secretário, Leonardo Correa, se prontificou
a comentar a situação dos refugiados da Bacia
do Cacaricas, mas até o fechamento desta edição
não havia retornado as ligações.



NaColômbia,perseguição,morteedestruição
A luta pela sobrevivência
dos oito colombianos da Bacia
do Rio Cacarica refugiados no
interior de Minas Gerais - a cidade
e seus nomes completos
forampreservados - émais um
triste capítulo da história de
guerra e massacres daquele
país. A vinda para o Brasil, em
2002, foi a única forma de escapar
das perseguições, mutilações
e assassinatos que ameaçamainda
filhos, netos, parentes
e amigos. A região tem 23
comunidades de choupanas de
madeira e 4 mil camponeses.
Segundo manifesto da entidade
internacional Associação
Juízes para a Democracia e do
Fórum Mundial de Juízes, “as
comunidades campesinas são
vítimas de continuadas violações
dosDireitosHumanos”.
A vida seguia tranqüila na
floresta, até que, por volta de
1996, começaram as pressões
de mercenários ligados às madeireiras,
multinacionais e do
Governo, relatam os refugiados.
“Ouvimos ameaças do
exército de que a gente ia sair
daqui porque os guerrilheiros
das Farc (Forças Armadas Revolucionárias
Colombianas)
estavam se escondendo em
nossa terra. Disseram que nós
ajudávamos a guerrilha”, lembra
Manuel. Só que os guerrilheiros
estão em toda Colômbia,
até na capital. “Chegava
umhomem armado da guerrilha
para a gente e dizia: ’quero
comprar um boi para comer’.
Se eu não vendesse, ele me tomava,
me matava”, afirma Heliodoro.
O colombiano diz que,
apesar de tomar produtos dos
ricos, do pobre eles ainda compravam.
Só que, segundo Heliodoro,
o Governo começou a
usar isso como desculpa para
tirar nossa terra para dar para
as empresas.
As alegações oficiais motivaram
a chamada Operação
Gênesis, de 1997. “Foi cedo. Os
aviões e helicópteros voavam
por cima da vila e jogavam
bombas que explodiamnamata.
As lanchas e homens com e
semfarda doExército cercaram
nossa comunidade dando tiros
de metralhadora.Ninguém entendeu
direito”, lembra Manuel.
Com a atenção dos camponeses,
os militares teriam
anunciado que os “cacarica”
deveriampartir. “Estava o exército
e a milícia.Quem falava alguma
coisa levava tiro na mesma
hora, na frente dos velhos,
crianças e mulheres. Queriam
intimidar”, denuncia Heliodoro.
Os massacres continuaram
em toda comunidade para
amedrontar os camponeses,
relatamos exilados.
Um amigo dele, chamado
Marino Lopes, 30 anos, correu
do fogo cruzado,mas, quando
voltou para a vila, os militares
o pegaram. “Bateram muito
nele, cortaram suas mãos e
pés, na nossa frente, com uma
motosserra. Depois esquartejaram
e o castraram como se
fosse um porco”, relembra Jesus.
O refugiado diz que a vítima
ainda estava ainda viva,
gritando desesperada. “Aí cortaram
a cabeça dele fora e ficaram
chutando ela na nossa
frente. Falavamque ia acontecer
a mesma coisa com quem
não obedecesse. Que quem ficasse
morreria”.

Ex-refugiadobrasileirocriticaposturadoGoverno
MATEUS PARREIRAS
REPÓRTER
A situação precária dos refugiados
no Brasil sensibiliza
ex-exilados do regime militar
que instituiu a ditadura no
país, entre 1964 e 1985. Anistiado
desde 1979 pelo decreto
do presidente João Batista Figueiredo,
o jornalista José Maria
Rabêlo fugiu do Brasil em
1964 e passou por três países.
“A situação dos refugiados no
nosso país é pior do que a que
passei na Bolívia, depois no
Chile e na França. É uma ingratidão,
já que os dois últimos
Governos brasileiros foram
constituídos por pessoas exiladas.
José Serra, Dilma Russef,
José Dirceu, todos precisaram
de asilo. Fora a eterna dívida
com a África, por causa da escravidão”,
defende.
A perseguição começou
quando o jornal que ele dirigia,
O Binômio, começou a incomodar
a direita militarista
do Brasil. “Fizemos umamatéria
sobre o general Punaro
Bley. Na época, o discurso dele
era de que havia infiltração comunista
no Governo. Resolvemos
saber quem era este herói
da democracia. Descobrimos
ser um interventor militar do
EstadoNovo no Espírito Santo.
Um verdadeiro ditador e perseguidor
das oposições. Fazia
campos de concentração para
presos políticos”.Otítuloda reportagem
foi: “General Punaro
Gley, democrata hoje, fascista
ontem”.
Insultado,omilitar foi pessoalmente
ao jornal. “Ele me
atacou. Lutamos e, duas horas
depois, 200 militares cercaram
oprédio,naCuritibacomCarijós,
e destruírama redação”. O
general acabou caindo, mas
seus partidários não esqueceram
a ofensa. Quando veio o
golpe de 1964, Rabêlo não teve
dúvidas. “Sabia que viriam
atrás de mim. Tanto que tinha
um esquema de fuga em São
Paulo.Doismeses depois, pedi
asilo na embaixada da Bolívia
no Rio, que era a última que
ainda aceitava refugiados”.
Há mais de 40 anos, a estrutura
que recebeu exilados
políticos na América Latina e
Europa era mais eficiente e
mais justa do que a existente
hoje no Brasil, acredita o jornalista
belo-horizontino. “Fui
bem tratado em todos os países
onde pedi asilo. Tive a
oportunidade de dirigir um
jornal em La Paz, o El Clarín.
Quando chegamos ao Chile,
em 1965, fomos muito respeitados
pela atividade intelectual.
As esquerdas locais também
encontravam trabalho”,
lembra Rabêlo.
Coma queda do presidente
Salvador Alende, em 1973, e
a tomada de poder pela direita,
o jornalista foi novamente
perseguidoemSantiago. Se refugiou
comquase 300 pessoas
na embaixada do Panamá e
depois seguiupara a França. “A
esquerda européia estava atônita
com o fim da social-democracia
no Chile. Nos primeiros
três meses tínhamos
ajuda de custo para nós e para
a família.

Em BH, Lofy foge da guerra em Angola



Estudando numa Faculdade de Belo Horizonte durante
o dia e trabalhando num estágio à tarde e à noite, o
angolano Lofy, 24 anos – que não fornece o nome completo
–, da etnia majoritária kimbundo, poderia ser
consideradoumprivilegiadose comparadoaosdemais
refugiados. Com o curso, além de educação, conseguiu desconto
na alimentação e moradia. Mas nem sempre foi assim. Há sete
anos no país, o africano passou fome e enfrentou dificuldades
como o desemprego, a falta de comunicação com a família de
sete irmãos e o preconceito. Chegou ao Rio de Janeiro aos 17
anos, como turista, e pediu refúgio ao Brasil.
Ele escapou de Angola em 2001, em plena guerra civil travada
entre o Governo, controlado pelo Movimento Popular de
Libertação de Angola (MPLA), e a oposição armada da União
Nacional para a Independência Total de Angola (Unita). “Foram
meus próprios pais que decidiram. O país estava em guerra,mas
era uma guerra semsentido, entre nosso próprio povo. Não tinha
um inimigo externo e o conflito era por ganância e corrupção",
acredita. Foramdois anos de tentativas até conseguir escapar. “O
tempo estava correndo. Se completasse 18 anos, seria convocado
para o exército e minha religião é pacífica. Não aceita violência.
Em Luanda - capital do país -,
onde morava, os soldados vão
de madrugada à sua casa e te
buscam, mesmo à força".
Além do pacifismo, Lofy
também temia as atrocidades
de que ouvia falar. “A guerra
acontecia no interior, na zona
rural. Onde umdos lados vencia,
a população se filiava para
ficar protegida. Quando os inimigos
chegavam, matavam
todos, por considerá-los, apartir
de então, partidários do
rival. Ouvíamos que os parentes
dos soldados derrotados
eramobrigados a comer a carne
dos seus parentes", lembra.
A violência em Luanda também
tinha alastrado. “As crianças,
mesmo inocentes, brincavam
de coisas terríveis. Puxavam facas e ameaçavam umas as
outras de morte por disputas de futebol".
Depois de subornar por dois anos os agentes do governo,
numa noite de sábado em que chegou em casa, sua mãe avisou
que a viagem seria em poucas horas. “Não podia nem me despedir
direito. Fui com umtio para o aeroporto e voei para o Brasil",
recorda. Na chegada, o primeiro susto. “Vi aquela quantidade de
favelas. Não era nada parecido com a beleza que a gente via nas
novelas da TV. Pareciam mais as musseke (favelas angolanas)",
comparou.
Como refugiado, Lofy recebeu, por três meses, R$ 180 do
Cáritas de São Paulo. Participou de cursos no Senac, mas precisava
sobreviver. Preferiu trabalhar como perueiro, onde conseguia
R$ 300 mensais. Com a oportunidade de estudar em
uma faculdade de Belo Horizonte, em 2003, o angolano decidiu
arriscar. “Passei fome. Pedia restos de pão nas padarias
para comer.Meu pai faleceu e só soubemuito depois. Foimuito
difícil,mas sabia que só venceria se estudasse. Quero voltar
para meu povo e poder fazer algo por lá. E o Brasil é minha
segunda casa, apesar dos governantes não darem atenção aos
refugiados", disse. (M.P.)

Africano de pouca conversa

Refugiados aceitos pelo
Brasil também sofrem transtornos
psicológicos e precisam
de acompanhamento
especializado. É o caso de É.,
da República do Chade, há 6
anos no país. De pouca conversa
e desconfiado, o refugiado,
que está
há 3 anos em
BeloHorizonte,
busca tratamento
psicológico.
Teve problemas
com
drogas, com a
mulher e filhos
brasileiros. Acabou perdendo
a guarda deles. A pressão teria
começado ainda em São
Paulo, quando sofreu um
atentado que atribui a seus
compatriotas. Sem freqüentar
a UFMG, e com rendimento
zero, acabou jubilado
e sem benefícios.
A resolução interna de 19
de agosto de 2004 da UFMG
sobre a matrícula de alunos
refugiados permite ingresso
de aprovados pelo Conare,
com o ensino médio completo
até 2 anos antes, no país de
origem, dependendo do número
de vagas estabelecido
pelo colegiado dos cursos.
Eles podem usufruir da moradia
e de uma bolsa, de valor
não revelado,
mas que o HOJE
EM DIA
apurou ser de
um salário mínimo.
Hoje, 17
alunos de Angola
e da Guiné
Bissau freqüentam a instituição.
De acordo com a diretora
de Relações Internacionais
da UFMG, Heliana de
Freitas Dutra, há possibilidade
de conseguirem bolsas de
alimentação, saúde,material
pedagógico e acompanhamento
psicológico. “Os filhos
e cônjuges não ficam completamente
desamparados,
recebem também estes cuidados”.


Paraconseguir refúgio,é
necessárioviraoBrasil

Dos 609 pedidos de refúgio político pedidos
feitos por estrangeiros ao Conselho Nacional
para Refugiados (Conare) do Brasil, 208 foram
aceitos e 401 negados. É que no Brasil há distinção
entre asilo político, refúgio e imigração. De
acordo com o Conare, imigrante é uma pessoa
que decide, por motivos variados, inclusive desejo
próprio e situação econômica, deixar sua
pátria para tentar condições melhores em outra.
O asilo é concedido peloMinistério das Relações
Exteriores a pessoas que o governo julga elegíveis,
como os ex-presidentes do Equador, Lúcio
Gutierrez, e do Paraguai, Alfredo Stroessner. O
mecanismo é parte do direito internacional
público e foi promulgado no Brasil em 1957.
O refugiado, pela Lei Brasileira 9.474/97, é
uma pessoa obrigada a sair de seu país, por fundados
temores de perseguição de étnica, política,
religiosaouumageneralizada violaçãodos direitos
humanos no seu país.De acordo coma coordenadoradoConare,
NaraConceição,os refugiados são
aceitos apenas quando chegam à fronteira brasileira
ou procuram a Polícia Federal no território
nacional. Todos têm direito de pedir e não há
reserva de cotas.mas é preciso responder a entrevistas.
“Fazemos umestudo para saber se o que a
pessoa conta é compatível coma realidade dopaís
e investigamos por nossas embaixadas pelomundo
a veracidade dos casos", conta Conceição.
As condiçõesemque chegamao Brasil, pelos
aeroportos, clandestinos em navios ou fronteiras
secas, também é precária. O Conare estima que
90% não têm documentos e, já no processo de
averiguação, os potenciais refugiados recebem
uma identidade brasileira e uma carteira de trabalho.
Depois de seis anos no exílio, a pessoa
pode se naturalizar.
“O número de solicitações aumentou com o
aprimoramento da legislação. Mas as pessoas
pensam, por exemplo, no caso dos africanos,
por que vir para o Brasil se há países em paz lá?
Mas, se uma pessoa da República Democrática
do Congo, que sofre com conflitos graves no
norte, fugir e for enviada a umpaís sem guerras,
mas de etnia rival, o refugiado pode ser morto",
pondera. (M.P.)

(Fotos: Carlos Roberto/ Frederico Haikal)


quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Jeitinho Brasileiro Mata a Juventude

Num país que cultua, até na televisão, ser mais esperto que o outro, ou seja, praticar crimes, atos imorais ou ati-éticos, camuflados pelos termos “malandragem” ou “jeitinho”, fico intrigado quando escuto conhecidos sabidamente adeptos dessas práticas a criticar o Senado da República. Seria porque os excelentíssimos pegos em atos indecorosos se tornam os “malandros que vacilaram”, e a eles todo peso da Justiça? O exemplo pode até ter vindo lá de cima, mas muitos cá em baixo não largam mão mais dessas atitudes.

São os fura-filas de padarias, os não-te-deixo-passar do tráfego urbano, o vizinho que estaciona na sua garagem. Um segmento em particular, entre esses, é o que considero o mais desprezível: o flanelinha, manobrista informal ou guardador de carro. Me enfurece ter de, além de pagar em dia todos os impostos que são de minha obrigação, ter de deixar dinheiro para uma pessoa que me extorque sem que as autoridades façam nada. Minto. Quis dizer, nada para impedir, porque a empresa de trânsito, no caso de Belo Horizonte, a BHTrans (leia-se, a prefeitura), é conivente com a situação e distribui coletes para os “registrados” não sejam confundidos com os outros. Outro dia, um desses biltres intimidava minha esposa assim que ela saiu do carro, antes que eu tivesse saído. Quase brigamos no meio da rua. Considero perniciosa e uma mostra clara da falta de caráter desses oportunistas a covardia que exibem ao se aproveitarem das mulheres e dos idosos.

E a solução parece ainda estar longe. Quando entrevistei os candidatos a prefeito em Belo Horizonte, em 2008, no debate promovido pelo HOJE EM DIA sobre seus planos caso fossem eleitos, nenhum deles tinha sequer uma proposta sobre os flanelinhas. Pelo contrário. Jô Morais (PCdoB), chegou a dizer que era preciso integrar a atividade daqueles “profissionais”. Não é essa a mesma política que tirou camelôs das ruas, os colocou em camelódromos e os explorou até que tivessem de deixar suas bancas para os contrabandistas das máfias chinesa e coreana? Sérgio Miranda (PDT) pelo menos foi mais sincero e admitiu não ter conhecimento sobre a extensão do problema, prometendo se inteirar do assunto. Os demais se ativeram aos discursos retóricos e vazios.

Mas não é só entre os pobrezinhos que não tiveram uma chance na vida e tem de se virar que esse tipo de distorções e malandragens ocorre. Longe disso. Neste último domingo, Dia dos Pais, estava reunido com minha família para o almoço. Iríamos a um restaurante perto da casa deles, lá na Pampulha, o Fiesta Brava. Perguntei para minha mãe se ela fizera reservas, atevendo a grande procura que a data provoca. Ela disse que não, que havia ligado para o restaurante e que fora informada que não eram feitas reservas.

Chegando lá, avistamos duas mesas vazias e nos dirigimos tranquilamente até elas. Um garçom nos abordou e nos levou até uma terceira, dizendo que aquelas estavam reservadas! Foi uma primeira mostra de que por ali não se fazia as coisas com seriedade, mas não queria estragar o momento junto a meu bom pai, mamãe e irmãos. Fomos até a tal outra mesa e... também estava reservada! O fato pegou até o garçom de surpresa. Começamos a reclamar e um senhor de bigodes que disse ser o responsável pelo estabelecimento disse que aqueles espaços estavam reservados, mas que se quiséssemos esperar logo conseguiria outra mesa. Nos sentimos ultrajados pela falta de honestidade, seriedade e de profissionalismo daqueles homens e imediatamente fomos embora, escutando inúmeras promessas e discursos prontos de formas distorcidas de justiça.

Outro dia uma produtora da TV Assembléia me convidou para um programa sobre violência contra adolescentes, pois Governador Valadares seria a segunda cidade do país com os piores índices. Participariam também o professor e ex-subsecretário de Defesa Social, Flávio Sapori, e o mestre em segurança pública e pesquisador do Crisp, Felipe Zilli. Não pude ir por força de muito trabalho sendo fechado ao mesmo tempo. Mas quero deixar minha contribuição. Não é o tráfico nem a falta de polícia nas ruas. É a educação em casa e o mundo que construímos no dia a dia, como se fossemos os senadores corruptos do cotidiano, que moldam as perspectivas e os valores das crianças. A promessa do dinheiro fácil no tráfico é a versão apenas mais extremada do jeitinho para se faturar um trocado a mais com atitudes “malandras”. Não ensine seu filho a ser malandro. Ensine-o a ser um homem ou mulher de bem.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Desintegração

Eventos recentes ocorridos poe Belo Horizonte e contados pelos seus agentes de segurança pública mostram um desgaste na alardeada integração exemplar das polícias em Minas Gerais. Cada dia mais ouço reclamações, principalmente dos policiais militares, sobre a ação de seus ditos “colaboradores” na segurança mineira. E olha que o governador Aécio Neves (PSDB) leva a integração como uma das suas principais bandeiras. Que está melhor do que já foi, isso é impossível de negar. Há tempos atrás eles lutavam até entre si, vide a morte do cabo Valério em 1997, que acabou em pizza, ou anistia ou em eleição, já não se sabe bem mais a definição. Mas hoje há ainda muitas rusgas nesse relacionamento.

Na terça-feira mesmo fui fazer uma matéria sobre um policial civil que resistiu à abordagem de militares durante checagem de suposta denúncia anônima sobre tráfico de drogas. Os homens da PM disseram que ele alegou ser policial e que, depois da revista, ia buscar o distintivo no carro. Voltou armado, criando um clima de tensão que acabou resultando no seu cerco e na chegada de 30 viaturas das duas corporações numa ruazinha do subúrbio.

Já na delegacia, o agente de segurança pública da Polícia Civil de Minas Gerais ficou todo nervoso, disparando deboches contra os militares que o detiveram e a imprensa. Começou ameaçando nosso fotógrafo Lucas Prates. Cresceu para cima dele perguntando porque é que tirava fotos do carro dele parado na rua. Para esclarecer, o carro constava na denúncia que desencadeou toda confusão.

Depois de encarar o fotógrafo e este jornalista, o policial começou a fazer chacota: “Ai meu Deus. Além de ter de aguentar esses bostinhas da PM, ainda tenho de suportar esses bostas da imprensa”, disse. Enquanto os quatro policiais militares tentavam fazer a ocorrência, mais e mais policiais civis chegavam na pequena delegacia. Contei uns 16 numa certa altura. Viaturas do Departamento de Operações Especiais (Deoesp), que geralmente cuida de organizações criminosas perigosas, sequestros. Da delegacia de Crimes Contra o Patrimônio (Depatri) e até da 6ª Distrital de Contagem, nossa cidade vizinha da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Será que não tinha nenhum outro crime acontecendo ou para ser prevenido na cidade não? Naquela mesma hora, que pude anotar, ocorreram um assassinado no bairro Rio Branco, em Venda Nova, uma das regiões mais violentas da cidade, e outro no Bairro Novo das Indústrias, em Contagem, uma das cidades mais violentas.

Toda hora um dos civis xingava ou fazia pouco dos policiais militares, zombando do que relataram nos boletins de ocorrência. Chamaram eles de despreparados. Ora, se o fossem, acho que teriam atirado contra o suposto policial assim que ele sacou uma arma de dentro do carro, não é mesmo? lembro que também fizeram piadinhas sobre minha barba grande. Algo tipo comparando ao terrorista Osama Bin Laden. Pelo que entendi, se fosse passar por uma abordagem deles a coisa seria bem minuciosa. Questão de segurança nacional, não é mesmo? Para que me queixar? Estamos em boas mãos!

Hoje, recebi nova queixa de policiais militares. Me contaram que apreenderam uma menor de 16 anos e um rapaz num carro roubado no Bairro Betânia, Zona Oeste (Mesma Região da confusão anterior!). O rapaz disse que o teria comprado (um tipo vermelho novinho) por módicos R$ 3, 5 mil de um colega. Foram até o colega, numa igreja da região da Floresta e o levaram para a delegacia. O suposto vendedor disse que pertencia à diretoria de um grande Clube de Futebol, mas negou a venda. Pouco depois de advogados e vários carrões, Mercedes Benz, BMWs e até um Jaguar, chegarem à delegacia, o discurso do homem pego com o carro roubado até mudou. Mas não teve problema. Foi só a turma se reunir com a delegada, segundo os militares, que logo as coisas mudaram. A equipe da polícia militar passou a ser hostilizada pelos agentes da Polícia Civil e, pasmem, o flagrante não foi lavrado...

domingo, 2 de agosto de 2009

Aeroportos em parafuso

Sempre achei que os aeroportos das cidades do interior eram terras de ninguém, onde se pousa de tudo em qualquer condição e de qualquer jeito, inclusive drogas e contrabando. A prova tive nessa semana fazendo matéria sobre o assunto no HOJE EM DIA. É o pavor dos pilotos. Vacas pastam ao largo do pavimento e deixam seu estrume no meio da asfalto, cães promovem aquela correria em época de cio, lavradores passam carregando feixes de lenha nas costas e uma infinidade de perigos. De acordo com o Estado, há 151 pistas em Minas Gerais, sendo 93 reconhecidas pela Anac.

Em Guanhães, a cabeceira termina no curral de uma aposentada. Em Nanuque os aviões já chegaram a atingir carros que trafegavam em estradas vicinais. As vias passam praticamente coladas ao aeródromo. Paracatu e Muriaé seguem mesmos exemplos. E tem mais, outros, maus exemplos.

É um cenário preocupante. As encomendas de aeronaves crescem a todo vapor (só a Embraer lucrou mais de 58% entre 2008 e 2007 no Brasil). Mas a série ainda continua. Infelizmente, com denúncias ainda mais graves e absurdas. A culpa parece ser apenas das prefeituras, mas é difícil sacrificá-las sozinhas. Tem um projeto ai de privatização dos aeródromos por lotes que pode ser interessante.

O problema é que até nos aeroportos lucrativos vemos falta de segurança e de condições, isso estruturas comandadas pela Infraero. Muitos recebem verbas e preferem transformar os aeroportos em complexos de compras e entretenimento, com salas de cinema e praças de alimentação junk food. Imagine quanto custa uma sala no Aeroporto de Guararapes (PE)? Vá até a pista e veja que calamidade, repleta de remendos, ondulações e tudo mais. E olha que é o aeroporto do "Cara"!

Contatos

projetoinfiltrado@gmail.com

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PROJETO INFILTRADO

Minha foto
Repórter do jornal Hoje em Dia, o jornalista Mateus Parreiras cobre o dia a dia do estado no caderno Minas (cidades) e produz também reportagens especiais. Formado em 2004 pelo UNI-BH, e desde setembro daquele ano no Hoje em Dia, o jornalista já conquistou o I Prêmio de Jornalismo de Interesse Público 2007 do Sindicato dos Jornalistas de MG, o Prêmio Crea-MG 2006, Volvo 2006 e foi três vezes finalista do Prêmio Embratel, em 2005, 2006 e 2008.

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