Projeto Infiltrado (Desde abril de 2007)

Será que um Projeto considerado perfeito, acima da Lei e corrupto, já não conta com infiltrações em seu âmago? Ou há um plano de comentar bastidores e posições dos que arquitetam essas manobras, sem filtros e de forma crítica? Pode ser que haja um esquema pronto para infiltrar nesses sindicatos negros e trazer a público o que muitos não sabem por acontecer nesses bastidores. Ao descobrir o significado do Projeto Infiltrado, você pode colaborar para sua própria execução.


segunda-feira, 21 de maio de 2007

Aborto

Mapa do Aborto no Mundo (Clique na figura)
A idéia desta série surgiu antes de o ministro Temporão ter dito ser a favor de plebiscito e tal. Queria fazer uma matéria de fôlego, bem polêmica e explicativa. Se cercasse o aborto direitinho, ia ser um belo material, com muita coisa boa, venda de remédios, clínica clandestina, religiões... Só tinha um pequeno problema... Eu não era mulher!

Foi ai que tive a maior sorte! A Leida escalou uma das minhas mentoras dos tempos de estagiário: Luciana Neves. Putz! Não deu outra. Formamos uma dupla muito legal. Eu apavorando de um lado: vamos para lá, para cá e tal. E ela pedia calma, sempre centrada e prudente. Não é que conseguimos tudo o que queríamos e mais um pouco?

Tinha que ter era filmado, ela no Mercado Central enrolando uns moleques com cara de marginais que vendiam a garrafada abortiva para ela, enquanto eu ia dando voltas para roubar uma foto. Os seguranças do Mercado já estavam me manjando, jeitão de turista, tirando foto para todo lado, mas sempre descrevendo a mesma rota, nas mesmas lojas até que: click! Perdeu! Deu eu!

Depois para achar a clínica de aborto! Tivemos umas 15 dicas, de empregadas de parentes de amigos de vizinhos de colegas de namoradas do cicrano. Tudo furado. Elas se mudavam rapidamente. Às 18h30, praticamente desistindo, fomos quase que por obrigação, já fazendo piadinhas do nosso triste destino, á última da lista. Putz! Deu nóis de novo! Leiam a matéria que foi muito bom. Saímos de lá sérios, depois de falar com o médico. Depois um olhou para o outro e rimos até! batemos as mãos: give me five! Aí veio a euforia! Putz! Na última! Ti falá viu Lu! nem dormi direito nesta série! O ruim é que sempre você acha que pode melhorar (e pode) e acaba perdendo o sono depois que não tem mais jeito de mudar as coisas... mas teve muito bom! Foi a série mais completa que fiz até hoje. para ver as matérias mais completas, com as matérias da Luciana Neves , entrem no site do jornal Hoje em Dia.

(Hoje em Dia - 06/05/2007)

Fotos: Mateus Parreiras





(Garrafada abortiva vendida livremente no Mercado Central de Belo Horizonte)

Aborto Legalizado

Mateus Parreiras

REPÓRTER

O aborto é proibido no Brasil, exceto em casos de estupro e risco de morte para as gestantes. Mas, na prática, está legalizado. A Portaria 1.508, de 1º de setembro de 2005, do Ministério da Saúde, protegeu as vítimas de violência sexual, que não precisam mais recorrer às delegacias para registrar Boletim de Ocorrência, a fim de conseguirem abortar em qualquer hospital. Ao mesmo tempo, permitiu que o aborto seja praticamente legal no país. A denúncia é de médicos e do coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias Criminais (Cao-crim) do Ministério Público Estadual de Minas, promotor Joaquim José Miranda Júnior.

Eles criticam a falta de controle nos hospitais, e relatam casos de grávidas que fingem ter sido violentadas para abortar com dinheiro público. Situação que põe em dúvida os 2.067 abortos legais em 2006, feitos em hospitais do país, sendo 103 deles em Minas Gerais, e que surgem num cenário onde gestantes brasileiras fazem largamente controle de natalidade, com remédios proibidos como Cytotec e as fórmulas caseiras, que podem ser adqüiridos em praças, no Centro de Belo Horizonte, em camelódromos e pela internet, com pouca interferência da polícia. Produtos geralmente advindos de um comércio negro, que envolve roubos de cargas e tráfico nos centros de saúde e fronteiras nacionais, além de fazerem mal à saúde.

O assunto é tema de movimentações no Congresso Nacional das frentes pró e contra aborto. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, se disse favorável à discussão, por meio de plebiscito. No país, segundo estimativa do Ministério da Saúde, ocorreram, em 2006, 1,1 milhão de abortos clandestinos. A curetagem - raspagem do útero depois de aborto natural ou induzido - foi o segundo procedimento mais desempenhado em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), perdendo apenas para o parto normal. Foram 220 mil atendimentos. Números que ilustram o que os envolvidos concordam: aborto, hoje, é caso de saúde pública no país.

Enquanto não há uma definição sobre a legalização ou não do aborto, o coordenador do Cao-crim, promotor Joaquim José Miranda Júnior, ataca as brechas da portaria 1.508. «A portaria do SUS tem de ser mudada, pois ela permite que mulheres aleguem ter sido estupradas, e façam aborto, com dinheiro público, sem que haja comprovação do crime por ocorrência policial. Com isso, ocorre tanto o assassinato de vidas em potencial - dos fetos -, quanto a impunidade de estupradores. Temos vários relatos de fatos assim, alguns deles absurdos, mas que são difíceis de se comprovar para que gerem denúncias», ataca o promotor.

De acordo com o coordenador do Cao-crim, os crimes deveriam ser julgados pelo Tribunal do Júri, mas o número de processos é quase nulo. «É difícil de se comprovar um aborto criminoso ou infanticídio. São casos em que as vítimas não têm voz nem vez, precisando de delatores e de investigação» aponta. Casos como o do médico Haddel Rachid Daer, 73 anos, preso em abril deste ano, numa clínica de sua propriedade, em Uberaba, no Triângulo Mineiro, junto a uma mulher de 26 anos, grávida de três meses e o suposto pai da criança. O casal teria pago R$ 1 mil para que ele executasse o aborto.

A referência técnica da Coordenadoria de Atenção à Saúde Popular da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais, Aléxia Baeta Machado, afirma que as mulheres são submetidas a análises e que não poderiam ludibriar os hospitais, alegando terem sido estupradas para abortar, a despeito do que médicos e Ministério Público denunciam. «As datas do ataque sexual e da concepção são checadas e a gestante é submetida a avaliações de médicos, assistentes sociais ou psicólogos», afirma.

Por outro lado, defensores do aborto acreditam que mesmo se valendo de subterfúgios, as mulheres garantem um tratamento mais seguro nos hospitais do que na clandestinidade. «Não cabe aos médicos julgar se uma pessoa está mentindo ou não. Se o médico não acredita no que faz, que peça demissão. Já é muito difícil tomar a decisão de abortar, quanto mais se submeter a tratamentos clandestinos que podem levar à morte», defende a socióloga e coordenadora do núcleo de saúde da mulher da UFMG, professora Anayansi Correa Brenes.

«Estupro é usado como pretexto»


Entrevista com médico que denuncia fraudes

Histórias de mulheres grávidas que conseguiram abortar alegando estupro são comuns em corredores de hospitais da capital. Nas rodas de conversas, médicos e enfermeiros. «O aborto já está legalizado no Brasil. Como a mulher não precisa mais apresentar um boletim de ocorrência policial com registro de que foi vítima de violência sexual e engravidou, estão aparecendo gestantes com histórias fantásticas, que conseguem abortar pelo Sistema Único de Saúde (SUS), com dinheiro público», revelou ao HOJE EM DIA um ginecologista obstetra. O médico, que já trabalhou na Maternidade Odete Valadares, Hospital das Clínicas (HC) e Maternidade de Betim, pediu para preservar sua identidade, pois teme ser punido pelos centros de saúde onde ainda atua. Ele contou à reportagem, com detalhes, como é fácil conseguir uma intervenção destas pelo SUS na capital mineira.

Nos hospitais em que trabalhou, encontrou muitas mulheres que se diziam vítimas de estupro para justificar o aborto?

Não digo que eram muitas. Mas, comigo mesmo houve casos onde dava para ver que elas estavam inventando. Trabalhei no Odete Valadares, Hospital das Clínicas e Maternidade de Betim. Muitas das pacientes que desconfiei eram jovens. Elas formulavam histórias onde teriam engravidado em consequência de violência sexual. Os colegas comentam bastante sobre isto. Contam também as experiências deles. Como acabam obrigados a colaborar com a farsa, porque o hospital não teve competência para analisar o caso e barrá-lo, nem o Ministério da Saúde impediu que fosse tão fácil.

Como sabe que é mentira?

Dá para saber. Tem muito caso absurdo, que não dá para acreditar que o hospital deixou passar. Há uns meses, por exemplo, chegou uma jovem, de 19 anos, no Hospital das Clínicas. Ela estava com mais ou menos 16 semanas de gravidez. Tinha passado pela triagem e estava com uma autorização do HC para fazer o aborto. Dizia que tinha ido a um terreiro de macumba e que lá deram umas coisas para ela beber. Disse que viu luzes e extraterrestres e que depois desmaiou. Acordou dentro de um círculo, nua e violentada, e depois soube que tinha engravidado.

Ela apresentou remorso?

Não. Nenhum. Pelo contrário. A ausência de emoções mostrava um discurso preparado, muito automático, artificial mesmo. Qualquer um veria que era mentira. Se um caso desses passa, por mais absurdo que ele possa parecer, então uma historinha mais bem elaborada ganha crédito sem problemas.

Como foi a intervenção?

O processo é demorado. A gente introduz 200 microgramas de misoprosol - que é a mesma coisa do remédio proibido cytotec - na vagina, a cada 4 horas, até que o colo se dilate e expulse o feto. Foi demorado. De um plantão para o outro.

Como o senhor ficou depois, sabendo que ela mentia e que estava abortando o filho que fez de forma natural?

Nunca disse isso para ninguém, mas, na hora que fui fazer o procedimento nela, pedi para um outro colega introduzir a medicação. Não tenho opinião formada sobre o aborto. Não sou totalmente contra nem a favor. Mas aquilo não parecia certo de jeito nenhum. Alguma coisa me parou ali, no momento. Não podia participar do aborto daquela criança. (M.P.).

ABORTO

_ Em BH, vítimas de violência sexual podem buscar ajuda nos hospitais das Clínicas da UFMG, Municipal Odilon Behrens, Júlia Kubitschek e Maternidade Odete Valadares

_ A profilaxia determinada pelo Ministério da Saúde inclui pílula do dia seguinte e medicamentos contra hepatites B e C, sífilis e Aids

_ O HC/UFMG registra apenas dois casos de mulheres que fizeram aborto legal, mas atende uma média de cinco mulheres, por mês em busca da profilaxia

_ O Hospital Municipal Odilon Behrens registrou três casos de aborto legal, desde março de 2003, e 29 casos de violência sexual neste ano

_ Na Maternidade Odete Valadares, o aborto legal representa 7% de todos os procedimentos

_ 31,3% dos casos de morte materna de mulheres entre 10 e 49 anos, em Belo Horizonte, ocorreram por complicações de aborto

- Estima-se que a violência sexual atinja 12 milhões de pessoas a cada ano no mundo

_ 2 mil abortos legais são feitos no Brasil todo ano devido a violência sexual e risco de vida para a gestante

_ 1 a cada 9 mulheres recorre ao abortamento para interrompê-lo, por não desejar o bebê

_ A 5ª maior causa de internação pelo SUS se deve ao aborto

_ O aborto consta como a 2ª a 4ª causa de morte materna no país

_ 220 mil curetagens pós-aborto são realizadas todo ano na rede pública, no país

_ R$ 1,10 é o preço médio da sonda urinária, vendida em drogarias, muitas vezes utilizada para provocar aborto

_ R$ 20 é o preço da garrafada abortiva comercializada no Mercado Central. São mais de 20 ervas misturadas ao álcool

_ R$ 200 é o preço do Cytotec vendido no mercado negro

«Em hotéis do Centro, meninas conseguem Cytotec»

Mateus Parreiras

REPÓRTER

Talvez mais expostas do que a maioria das brasileiras a uma gravidez não planejada, e certamente indesejada, as prostitutas de Belo Horizonte têm orientação clara sobre o assunto. Segundo uma das lideranças da Associação das Profissionais do Sexo da cidade, identificada como Patrícia, em caso de gravidez, as associadas devem fazer uso de remédios abortivos. «É Cytotec na hora, sem nem conversa», afirma. «Lógico, a menina vai ter filho de uma pessoa que ela nem mesmo conhece? De um cliente que ela nem sabe quem é? Elas engravidam e, se precisarem, ajudo a comprar o remédio e ensino a usar. Basta tomar dois comprimidos e colocar - no colo do útero - mais dois», indica.

Patrícia mesmo já passou por três abortos desta forma. Mas o assunto ainda é controverso, inclusive para a categoria. Numa reunião das profissionais realizada na Associação Cultural da UFMG, à qual o HOJE EM DIA teve acesso, elas se mostraram divididas. «Tem meninas que não concordam. Porque só as desmioladas é que ficam grávidas, já que têm como prevenir, com pílula do dia seguinte, anticoncepcionais etc», enumera Patrícia.

Comprar o remédio, Cytotec, é mais fácil do que parece. «Nos hotéis do Centro, onde as meninas trabalham, tem gente que consegue. Tenho o telefone de umas duas pessoas que levam para mim onde eu quiser. Custam R$ 200 quatro comprimidos. Não se vai mais em clínica de aborto. Só conheço um caso que não deu certo com o Cytotec. Precisou de outra dose», relata a profissional do sexo, que cuida de três crianças abandonadas por colegas.

Trabalhando sozinhas, expostas à violência na escuridão do alto da Avenida Afonso Pena, nas esquinas do Bairro Bonfim ou dentro dos hotéis da decadente «Zona Boêmia» do Hipercentro da capital, elas relatam histórias surpreendentes. Como a da prostituta Camila, 29 anos, há quatro na profissão. «Quando fiquei grávida, já tinha dois filhos pequenos. Não podia ter a criança, porque precisava de trabalhar e não tinha nem dois meses que estava na vida. No hotel que ficava é que arranjei tudo», lembra.

A jovem disse que um homem que freqüentava a casa de prostituição lhe ofereceu tratamento. «Não era um cara bonito nem simpático. Ficou me falando que depois ia me levar para trabalhar numa boate e tal. Fui na casa dele. Me disse que tinha de beber conhaque e rum antes», conta Camila. Depois dos passes, o homem e a prostituta tomaram um táxi. «Fomos para a Avenida Paraná. Ele pagou 2 horas em um hotel barato. Continuei bebendo. Ele passou umas coisas em mim e, depois, subiu na minha barriga e ficou pisando nela», conta.

Anestesiada pela bebida e pelas dores, Camila lembra sentir que algo escorria dela. «Não quis olhar o que era, com medo de ver meu filho. Depois, o homem me disse que eu tinha de manter relações sexuais com ele. Perguntei por que, mas só dizia que tinha de fazer isso», relata. Uma semana depois, recuperada, a prostituta descobriu que estava grávida de gêmeos, que perderam um, mas acabou tendo a outra filha.

(Hoje em Dia - 07/05/2007)

Clínica clandestina em BH

Mateus Parreiras e Luciana Neves

REPÓRTERES

O soar da campainha, acionada por entre as grades de um portão de metal, precede a abertura da porta de madeira do casarão antigo, que aparentava estar abandonado. Do interior iluminado, surge um homem vestindo longo jaleco branco com brasões médicos, de sapato branco, calça jeans e camisa escura. Ao se aproximar, depois de destravar eletronicamente o portão metálico, revela ser homem de semblante cansado, de uns 40 anos, desleixado, com cabelos negros e corte de cantor sertanejo. Ele permite que o casal entre, convida-o a se assentar lado a lado em um banco e, de forma direta, confere: ½Você já tem ultra-som?”.

A pergunta do suposto médico não deixou dúvidas de que naquele casarão antigo, localizado na Rua Alvarenga Peixoto, próximo à Avenida Amazonas, no Bairro Santo Agostinho, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, funciona uma clínica clandestina de aborto. A constatação foi da equipe do HOJE EM DIA, que, na última sexta-feira, esteve no endereço. Passando-se por um casal de amigos em busca de um local para que uma sobrinha imaginária, 18 anos, grávida de dez semanas, pudesse interromper a gestação, os repórteres foram recebidos por ½doutor Cássio”.

Surpresa com a objetividade do aborteiro, a jornalista disse que o procedimento seria para uma sobrinha, com ovário policístico - que impede a regularidade da menstruação - e que ela já tinha o exame. ½De qualquer forma eu faço o ultra-som aqui. O aborto é feito por meio de sucção, com uma cânula de metal. Funciona como um aspirador e eu acompanho pelo ultra-som. Não termina enquanto não sugar tudo. Não é demorado. É feito em 10 minutos e ela sai andando”, assegurou. A gravidez avançada não seria impedimento. ½Aqui fazemos até os três meses. Já quer deixar marcado? São R$ 2 mil, em dinheiro. Posso até abaixar o preço, mas não depende de mim. Sou contratado, não dono”, apressou-se em informar o profissional.

A anestesia é local. O ½bloco cirúrgico” e os instrumentais utilizados não são vistos pelo paciente. Apenas no horário marcado para o procedimento, a pessoa tem acesso à sala, mas não é permitido acompanhante. Se houver, terá que aguardar do lado de fora. ½É tudo esterilizado ou descartável”, garantiu o suposto médico, que afirma fazer tudo sem ajuda de outros profissionais.

A discrição ainda pode ser observada do lado externo da clínica, o que chega a hesitar clientes em potencial. ½É proposital a aparência de abandono...”, afirmou ½doutor Cássio”, subentendendo a importância de driblar qualquer fiscalização. No imóvel, há apenas uma campainha do lado de fora, com orientação para tocá-la. Na parte interna, próximo à calçada, outra placa indica o número de um celular para marcação de consulta. O aborto pode ser feito a partir das 6h30, em dias combinados, inclusive aos sábados.

O temor de uma possível complicação é amenizado pelo ½doutor”. ½Não tem como ter hemorragia. Não faço cortes ou perfurações. Não encosta na parede do útero. Vai direto na estrutura onde fica o embrião. Mas se houver qualquer problema, temos condições de resolvê-lo. Por isso temos limites”, assegura.

Endereços estão sempre mudando

Encontrar uma clínica clandestina de aborto em Belo Horizonte não tem sido uma tarefa fácil. Para driblar possíveis fiscalizações, as mudanças de endereço são rotineiras, mas os aborteiros contam com uma rede informal de contatos e com a tolerância de alguns médicos e ginecologistas. As dicas geralmente são dadas por amigos de amigos cujas namoradas recorreram ao método, empregadas domésticas e outras conexões informais e dispersas. Além disso, tais estabelecimentos se tornaram mais raros, devido à larga utilização de remédios abortivos, como o Cytotec, e fórmulas caseiras.

Para encontrar uma clínica ainda ativa, a reportagem percorreu, durante uma semana, quatro prováveis endereços na capital indicados por antigos pacientes. Da região da Savassi, nos bairros de Lourdes e Santo Agostinho, os aborteiros haviam se mudado. No entanto, uma permanecia em funcionamento neste último bairro. Ginecologistas consultados, informalmente, disseram desconhecer colegas que faziam abortos, e preferiram a imparcialidade, sem apoiar ou demover a gestante diante da sua decisão.

O diretor científico da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia de Minas Gerais (Sogimig), Frederico Péret, ressaltou que a perfuração do útero e uma conseqüente infecção são as principais complicações provocadas pelo aborto feito em clínicas clandestinas. ½Muitas vezes pode ocorrer a retirada incompleta do feto, o que leva a graves infecções. Outro problema é a perda da capacidade reprodutiva”. Frederico Péret afirmou que o risco de complicação decorrente da interrupção da gestação é maior quanto mais adiantada for a gravidez.

A membro do Conselho Regional de Medicina (CRM) de Minas Gerais, ginecologista Vera Ceravolo, considerou ½irresponsáveis” profissionais que se dispõem a interromper a gravidez de forma ilegal. ½O médico que aprende a fazer aborto nessas clínicas é o pior profissional, especializado em morte e não em salvar vidas. Se denunciado, ele é investigado e pode até perder seu CRM”, afirma. A assessoria do CRM informou não poder divulgar a quantidade de médicos investigados pela prática, alegando sigilo judicial. Também a Polícia Civil de Minas Gerais não dispõe de dados sobre mulheres que abortaram em clínicas ou detenção de médicos que praticaram o aborto de forma criminosa.

Violência sexual permite interrupção da gravidez

Mateus Parreiras e Luciana Neves

REPÓRTERES

O aborto legal no Brasil é permitido apenas nos casos em que a gestante foi vítima de violência sexual ou quando a gravidez oferece graves riscos para sua saúde. O juiz da 4ª Vara Cível de Belo Horizonte, Jaubert Carneiro Jakues, salienta que, nos casos de saúde, a análise inicial é feita pelo médico, que avalia a urgência do procedimento. «Se a mulher passa por uma situação de risco imediato, a decisão de interromper a gravidez é tomada na hora, pela própria paciente. Se não for capaz, essa decisão é feita pelo próprio companheiro ou pelos pais», disse. Caso haja tempo hábil, o laudo do médico deve ser anexado a um pedido de autorização judicial.

Segundo o magistrado, as liminares na 4ª Vara levam cerca de duas semanas para serem julgadas. «Podem até ser deferidas no mesmo dia, dependendo da urgência. Não demora muito, mas também não há o que prorrogar. É uma chancela do Judiciário, para que não haja uma atividade médica sem controle», afirma. Ainda de acordo com o juiz Jaubert Jakues, apesar de cientificamente haver polêmicas quanto à fase em que o feto é considerado cidadão, para a Justiça isso começaria desde a concepção. «Pela lei brasileira, a personalidade da pessoa humana começa com o nascimento com vida, embora a lei proteja os direitos do nascituro desde sua concepção», distingue.

Norma técnica

Publicada em 2006 pelo Ministério da Saúde, a Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes prevê, como profilaxia, a pílula do dia seguinte e medicamentos contra hepatites B e C, sífilis e Aids, o que tem evitado um possível avanço da gestação. Na capital, os centros de referência são hospitais das Clínicas da UFMG (HC/UFMG), Municipal Odilon Behrens (HOB), Júlia Kubitschek e Maternidade Odete Valadares - os dois últimos da Rede Fhemig.

Essas instituições de saúde são muitas vezes procuradas por prostitutas, potenciais vítimas de violência sexual. No HC/UFMG, de acordo com a assessoria de imprensa, foram registrados apenas dois casos de mulheres que procuraram o hospital em busca de um procedimento mais invasivo para interromper a gravidez. No entanto, o HC atende a uma média de cinco mulheres, por mês, que relatam ter sido violentadas sexualmente, e buscam a profilaxia. Já o Hospital Municipal Odilon Behrens registrou, neste ano, 29 casos de violência sexual. Desde março de 2003, quando o protocolo começou a ser usada pelo HOB, foram registrados três casos de aborto legal.

A chefe da Seção da Maternidade do Hospital Júlia Kubitschek, Maria do Rosário Pereira Gonçalves, afirma que a instituição é pouco procurada pelas pacientes com suspeita de gravidez em busca da pílula do dia seguinte. Ela acrescentou que a unidade ainda não precisou realizar aborto em função de uma gravidez indesejada causada por estupro.

Já na Maternidade Odete Valadares (MOV), a média de aborto legal corresponde a 7% de todos os procedimentos. No ano passado, dos 115 casos de violência sexual, oito chegaram à interrupção da gravidez. Já em 2005, das 164 mulheres que buscaram a MOV, seis tiveram que fazer o aborto. «O Boletim de Ocorrência não é obrigatório, mas 99,9% das mulheres que procuram a maternidade trazem o BO. Isso nos dá uma tranqüilidade de que elas não estão mentindo e que realmente foram violentadas», afirma o psicólogo do Serviço de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual da Maternidade Odete Valadares, Francisco Viana.

O ginecologista Ramon Luiz Braga Dias Moreira acrescenta que não é papel do médico ser detetive. «Não somos nós que temos que provar se a mulher está mentindo ou não. Quando ela chega ao hospital, assina uma série de documentos de responsabilidade. Além disso, o protocolo é demorado, ela passa por uma série de entrevistas antes de o aborto legal ser indicado.»

Frases:

Estupro e risco à saúde da gestante são situações que permitem o aborto legal no Brasil

Baixos índices de planejamento reprodutivo, persistência de relações sexuais inseguras e má qualidade e acesso desigual aos serviços de saúde são justificativas costumeiras para a realização do aborto

Infecção grave e perda da capacidade reprodutiva são conseqüências do aborto clandestino

A Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes prevê, como profilaxia, a pílula do dia seguinte e medicamentos contra hepatites B e C, sífilis e Aids

Na Maternidade Odete Valadares, dos 115 casos de violência sexual, oito chegaram à interrupção da gravidez, no ano passado

(Hoje em Dia - 08/05/2007)

Máfia do aborto vende remédio proibido

Luciana Neves e Mateus Parreiras

Repórteres

Os descuidos com a prevenção sexual e com o planejamento familiar podem estar alimentando uma máfia do medicamento abortivo Cytotec. No Centro de Belo Horizonte, quatro cápsulas do remédio podem ser compradas por R$ 200. Com o advento da internet, o abortivo também é conseguido por meio da rede mundial de computadores, num prazo de 24 horas, após o depósito de R$ 300, com a garantia de entrega da encomenda por um motoboy.

Denúncia anônima feita ao HOJE EM DIA revela que o responsável pelo fornecimento do Cytotec na Avenida Santos Dumont, principalmente entre as ruas Rio de Janeiro e São Paulo, e nas imediações dos bairros Floresta e Lagoinha, regiões Leste e Noroeste da capital, respectivamente, é um policial civil, conhecido como “Né”. Ainda na ativa, ele reserva os dias de folga da delegacia para faturar nas ruas do Hipercentro. Seu ponto de referência é uma lanchonete localizada na Avenida Santos Dumont, atrás de uma banca de revista próximo a um ponto de ônibus.

A entrega da encomenda é feita de forma discreta. A negociação não é diretamente com ele, mas com alguns clientes de sua confiança, que fazem o pedido e recebem o produto, horas depois. Foi assim que a reportagem conseguiu o abortivo, entregue na Rua Sapucaí, na Floresta, na tarde da última sexta-feira. “Este é o melhor que tem. O brasileiro não é muito bom não. Este vem do Paraguai”. Apenas quando tem segurança, o remédio é deixado para ser pego, por não mais que alguns minutos, no interior de um orelhão, longe das câmeras do ½Olho Vivo” da PM, em horário e data previamente combina dos.

Mesmo nos dias de plantão, “Né” não abandona o posto. O sogro, um senhor baixo, gordo e grisalho, atua dentro da Pensão Mineira, na Rua Guaicurus, repassando a mesma mercadoria. Também a cunhada “Patrícia” o ajuda fornecendo para as “meninas” dos hotéis da zona boêmia. “Sempre tem alguém dando uma força. É tudo uma máfia. Às vezes, a radiopatrulha passa para pegar dinheiro com ele e encobrir a atividade”, afirma a fonte, que pediu anonimato temendo represálias e até mesmo a morte.

A pessoa acrescenta que “Né”, um moreno claro, alto e magro, de 32 anos, que sempre anda armado, “nunca fica com nada”. “A polícia sempre dá batida, mas nunca encontrou nada. Ele já teve que engolir papelote de cocaína para não ser flagrado”, conta a pessoa, que acrescenta outros produtos arranjados pelo policial - cocaí na, a R$ 10, o papelote, e o remédio Inibex, também a R$ 10, dois comprimidos. Misturado ao álcool, ele promove o mesmo efeito estimulante da cocaína. “No Centro, há outros vendedores, mas só Né fornece os três produtos. A grana é boa. Se não fosse, não estaria colocando tanta gente para trabalhar para ele, dia sim, dia não”.

O domínio da área por “Né” remonta aos tempos em que os camelôs ocupavam as calçadas do Centro. Disfarçado de ambulante, há mais de 11 anos ele comercializa os mesmos produtos que hoje continua vendendo. “Todos os profissionais são conhecidos. Todos sabem quem rouba, quem não rouba, quem trafica...”. Diante da denúncia, o inspetor Carlos Alberto de Oliveira César, da 21ª Delegacia de Polícia Civil, responsável pelo Hipercentro, informou que os dados do suposto policial seriam repassados para a Corregedoria para investigações.

(Hoje em Dia - 09/05/2007)

Foto: Inca

«Sociedade brasileira está pronta para debater aborto»

Mateus Parreiras

REPÓRTER

Empossado ministro da Saúde em 19 de março deste ano, o médico José Gomes Temporão causou polêmica ao trazer à tona, em seus discursos, a legalização do aborto no Brasil. Em entrevista concedida ao HOJE EM DIA, em Belo Horizonte, Temporão declarou que a «sociedade brasileira está pronta para debater o assunto». Questão que ele acredita ser «caso de saúde pública no país», e que poderia ser resolvida com maior esclarecimento e acesso aos métodos de planejamento familiar. «Principalmente a população mais pobre do Brasil se sujeita a procedimentos inseguros, por não ter a educação sexual e nem como arcar com métodos contraceptivos disponíveis», disse.

O aborto é um assunto controverso, ao qual muitos políticos costumam se esquivar. O senhor mal assumiu o Ministério da Saúde e já pretende tocar neste tema?

Não fui eu quem procurou o tema, mas foi ele quem me achou. Há uma grande necessidade de discussão na sociedade sobre o aborto, na perspectiva do planejamento familiar.

A Saúde nacional tem muitas urgências. O aborto é uma delas?

Estimamos que haja 1,1 milhão de abortos clandestinos no Brasil por ano. A curetagem pós-aborto é o segundo procedimento obstétrico mais comum na rede pública de serviços de saúde, depois do parto normal. Morreram no ano passado, no Brasil, 10 mil doentes com aids e 5 mil tuberculosos. Pois bem, só em 2007, 220 mil mulheres procuraram hospitais para fazer curetagem. O aborto é a quarta maior causa da mortalidade materna. Então, é um dos mais graves problemas de saúde pública.

E a saída seria uma consulta popular? Um plebiscito?

Temos hoje uma Lei rígida, que pune, mas não resolve o problema. A sociedade brasileira mudou muito nos últimos 20 anos e está pronta para esta discussão. Como esta questão específica envolve uma dimensão religiosa, moral e até filosófica, há dois espaços de discussão fundamentais: o Congresso Nacional e, se for decisão do Congresso considerar que a população deve ser consultada, o plebiscito. Hoje, com uma falsa proteção, tentando proibir o debate e fingindo que este problema não ocorre, principalmente entre as mulheres pobres, o que nós temos é morte, sofrimento e dor.

Qual a reação dos diversos setores a esta posição?

Recebi apoio de todos os lados, pois não há dúvidas de que esta é uma questão de saúde pública, que afeta, de perto, as mulheres brasileiras. Aliás, normalmente, os que decidem sobre abortar ou não, não são as mulheres, mas os homens. Às vezes até brinco. Pergunto: se os homens pudessem engravidar, será que o aborto continuaria na ilegalidade?

O que pode ser feito enquanto o Legislativo não se pronuncia?

Do Ministério da Saúde vai partir uma posição de implementar, na prática, uma política que já existe, que é a dos direitos sexuais e reprodutivos, onde a questão do planejamento familiar está colocada. Hoje, os mais pobres não têm acesso aos métodos anticoncepcionais. Não têm acesso à informação e à educação, necessárias para exercer, com consciência, a sua sexualidade, e poder definir o número de filhos e quando tê-los. Se isto for encarado de forma séria, a questão da gravidez indesejada, num sistema de saúde que funciona, passaria a ser algo eventual, aleatório.

Infiltrado na cidade comandada pelo tráfico, onde os criminosos fecharam projetos do governo

Fotos: Mateus Parreiras






(Olheiros do tráfico na região do Curumim)

A pauta podia ser feita em um só dia, se fosse para ficar no rame-rame. A notícia era bem clara e dava para render uma capa do dia com muita tranqüilidade. Havíamos sido informados que o Fica Vivo! fora fechado por quadrilhas de Ibirité, que fica a 21 quilômetros de Belo Horizonte. Era só começar a matéria: O programa Fica Vivo!, que reduziu a violência em X% não sobreviveu em Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por isso e aquilo. Abria umas aspas da comunidade, Polícias, Estado, Prefeitura, lideranças locais e fim de papo...

Só que minha editora, a Leida Reis, veio numa sexta-feira caminhando até mim e disse: “Olha só esta matéria. Vê se você não acha interessante? Que tal um especial de fim de semana?”. Ora bolas. Claro que era interessante! O Fica Vivo! é a menina dos olhos da segurança pública em Minas Gerais. Todos os lugares onde ele atua, até onde se sabe, sempre é um sucesso, com redução dos índices de crimes violentos e de homicídios. O trabalho social ensina arte, música, trabalho e ainda intermediava situações de conflito e de cidadania nas áreas de risco social. Se ele tinha falhado miseravelmente lá, era porque algo de muito grave podia estar acontecendo.

Esbugalhei os olhos ao monitor do computador enquanto desvendava a pauta. Me voltei a ela e começamos a combinar a matéria. Ficamos bem empolgados. Em vez de uma materinha do dia, resolvemos fazer uma especial. Disse que rendia umas três páginas! Acabou que consegui duas.

Só havia um problema: começaria na segunda-feira e deveria entregar tudo na quinta-feira à tarde. Na sexta mesmo fui fazendo meus contatos com a comunidade e lideranças. Na segunda-feira, fiz muita pesquisa na internet e fui embora para Ibirité. Leva menos de meia-hora para chegar lá. Mais parece um bairro de Belo Horizonte do que uma outra cidade.

Fizemos os contatos. Suei para conseguir alguém para me ajudar a entrar na favela e nos bairros para ver a bandidagem agindo. Depois uns até me disseram que conversei com políticos que seriam apadrinhados dos traficantes. Uma pena. Disse para a pessoa, que se soubesse, seria mais fácil conseguir uma entrevista com eles.

Rodando pela região, andando aqui e ali, de carro e a pé, dava para sentir a tensão dos próprios moradores. Fingia que era parente de uns, amigo de cicrano, ou simplesmente tentava passar desapercebido. A tensão era grande. O fotógrafo mal quis sair do carro. Peguei minha câmera e fiz umas fotos escondidas depois.

Algumas das pessoas, que me levaram lá, passaram muito medo comigo, levando a camerazinha escondida no bolso, no meio dos marginais. Ninguém quis aparecer. Tanto que só demos uma sombra de uma pessoa, que tava morrendo de medo. Outra fonte suou frio quando me levou para mostrar onde agiam os traficantes. Não é que demos de cara com um deles na rua, andando com o filho! E a vontade de tirar uma foto! Só que eu ia matar minha fonte se fizesse isso. E provavelmente eu não viveria para ver isso também.

O resultado ficou bom. Acabei estourando o dead line, mas foi por boa causa. Depois que fiz esta matéria, a Cris, produtora de rede nacional da Record me ligou para eles fazerem a matéria para o Jornal da Record. Ainda não assisti, mas deve ter ficado bem legal. Como é para TV, eles devem ter explorado outros pontos de vista e feito seqüências de imagens mais interessantes, com movimento e tal. A segunda parte (Tráfico aterroriza Vila) é a minha preferida, mais descritiva.






(Casas abandonadas por moradores expulsos por bandidos)

(HOJE EM DIA, 15/04/2007)

FICA VIVO 'MORRE' EM IBIRITÉ

Mateus Parreiras

REPÓRTER

As ameaças de bandidos armados e a obediência às leis impostas pelo tráfico de drogas transformaram em reféns do medo os cidadãos de Ibirité, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a 21 quilômetros da capital. Nem o projeto «Fica Vivo!», da Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS), conseguiu sobreviver. O programa promove a cidadania e combate a criminalidade na capital e em outras cidades, por meio de atividades artísticas, esportivas e profissionalizantes. Foi instalado no dia 6 de dezembro de 2006, na Vila Ideal, em Ibirité, que já foi uma das favelas mais violentas de Minas. A investida do Estado resistiu apenas dois meses.

Apesar de a cidade, que abriga 167 mil habitantes, ter registrado, em 2006, apenas 2,91 ocorrências de crimes violentos para cada mil habitantes, contra 9,62 casos da Região Metropolitana de Belo Horizonte e 12,71 da capital, só no Bairro Duval de Barros 26 pessoas foram assassinadas no período. Na Vila Ideal, a PM computou 30 ocorrências no ano passado, contra três em 2005. Neste ano, até o início de abril, foram sete registros, todos relacionados ao tráfico.

A reportagem do HOJE EM DIA passou quatro dias junto à comunidade, infiltrada na favela e também nos bairros vizinhos. Entre as incursões pelas vielas, barracos, áreas controladas por gangues, e as conversas com moradores, comerciantes e líderes comunitários, duas realidades: Na Vila Ideal, onde o «Fica Vivo!» foi fechado, valem as ordens ditadas pela quadrilha do traficante conhecido como «Gê». Ele goza de amplo apoio popular, pois determinou que, dentro da favela, não se pode cometer crimes, para que a polícia não atrapalhe seus negócios ilícitos.

Fora da favela, famílias que vivem nos bairros do entorno, como o Duval de Barros, Palmares, Marilândia e Washington Pires, sofrem com os desmandos de gangues armadas a serviço de narcotraficantes e assaltantes. São obrigadas a ceder suas casas para dar guarida aos bandidos, a usar seus carros para lhes dar fuga, e ainda convivem com ameaças e aliciamento de filhas e filhos. Os comerciantes são extorquidos. Devem pagar pedágio aos marginais, ou seus estabelecimentos são saqueados. Em todos os casos, impera a «Lei do Silêncio». Sem denúncias, o trabalho policial acaba prejudicado e a impunidade fortalece o ciclo de violência.

No Bairro Duval de Barros, famílias se sentem à mercê dos bandidos. Trancam-se nas casas. Temem comentar umas com as outras a situação. «Não dá para saber quem está ligado aos vagabundos e quem é direito», dizia um pai de família que vive no bairro, até que teve de fazer silêncio. Em uma só bicicleta, passaram na porta de sua casa dois jovens mal-encarados, vestidos com bonés, roupas coloridas de futebol americano e correntes nos pescoços. «Estes daí são os bandidos. Vai que você fala com a pessoa errada e ela conta para eles. Você acaba com a boca cheia de formiga», disse.

Desagregada pelo medo, a comunidade não delata os crimes. «A polícia vem, pode até prender uns vagabundos, mas não chega nos chefões, que se vingam da gente. A polícia não resolve mais», acredita um senhor de idade que sempre morou no local. «Os bandidos chegam e mandam levar um deles no nosso carro. Dizem assim: ’Leva aí meu chegado rápido’(para o lugar que querem). Você não sabe se ele tem droga. E se a polícia mandar parar, posso até levar tiro. Não se sai mais de casa à noite, nem de madrugada. A gente tem medo pela nossa esposa, pelos filhos. Tá todo mundo se mudando. Pena, porque esta é nossa casa», lamenta o pai de família.


Comunidade sequer conheceu o programa

Mateus Parreiras

Repórter

A pequena casa amarela, decorada com grafites típicos do Hip Hop, onde funcionava o "Fica Vivo!", anexo à Escola Municipal da Vila Ideal/ Serra Dourada, não desperta mais a atenção dos moradores da favela. O espaço agora é usado como estacionamento do colégio, onde crianças sem camisa correm e gritam em suas brincadeiras. "Disseram que ia ter futebol e música para a gente, mas tem muito tempo que isso daí não abre. Acho que é porque roubaram um computador", arriscou um menino, que aparentava sete anos e brincava com seu amigo, em frente às portas de metal lacradas.

As oportunidades propiciadas pelo programa, e a queda da violência, em até 20%, experimentadas pelas comunidades em risco social de nove núcleos na capital, seis da RMBH e quatro do interior, parecem não interessar aos moradores. "A gente tá em paz agora. Há uns três anos, era morte todo dia. Saía de casa e via dois corpos pelo caminho. Hoje, não tem mais disto. Todos respeitam as famílias. Se deixar a casa aberta, ninguém entra pra roubar. Posso chegar de madrugada que nada acontece", disse um morador da Vila Ideal.

Perguntado sobre o porquê, o homem é enfático. "Se roubar, matar e estuprar aqui dentro, os meninos (traficantes) matam ou expulsam (da vila), sem dó. Alguns deixam até vender o barraco, mas tem de ir embora. Não quero que isso mude. Agora vivo tranqüilo. Esse ’Fica Vivo!’ não vingou porque os meninos não queriam saber de bagunça com o povo dançando RAP, fazendo confusão por aí", conta o morador da favela.

Mas a paz na favela tem custos. "Os traficantes ficam à vontade na vila e mandam capangas matar nos bairros. Um líder do Duval de Barros, chamado Oswaldo, foi assassinado porque queria defender a comunidade. Aproveitaram um dia que ele brigou com uns meninos que fumavam droga na frente da sua casa e fuzilaram ele", lembra outro líder comunitário, que pediu anonimato. "Se não pagar R$ 200 de pedágio por mês, roubam minha loja. Há dois meses, obrigaram a gente a fechar nosso comércio, em luto pela morte de um traficante", lembra um lojista da Rua Marechal Hermes

Tráfico aterroriza Vila

Além dos relatos de pavor dos habitantes dos bairros do entorno da Vila Ideal, a reportagem do HOJE EM DIA experimentou também o clima de medo e tensão em que eles vivem. Percorrendo anonimamente ruas, casas e becos estreitos, na favela e no Bairro Duval de Barros, com moradores como guias, a sensação é de que se é vigiado a todo momento. Grupos de jovens suspeitos ficam espalhados por toda parte, encostados em esquina e becos. Provocam temor pela simples possibilidade de que um deles possa cismar com uma pessoa de bem, e usar de força para ameaça-la.

A fronteira entre o Duval de Barros e a Vila Ideal é quase invisível a olhos desatentos. As ruas de asfalto do bairro, com subidas e descidas fortes, permeiam casas com paredes de tijolos de barro, janelas de metal sem pintura, árvores e mato. É no estreitar das vias. Quando aparecem casas dependuradas em barrancos, que se adentra à favela. Numa das entradas, quatro sentinelas do tráfico, chamados “olheiros”, transmitiam por rádio informações sobre quem entrava ou saía.

Três deles, jovens com correntes pelo corpo e camisas esportivas de cores vivas, estavam assentados na calçada, refugiando-se do calor do sol, sob a sombra de uma árvore. Conversavam baixo, dispostos em volta de uma bicicleta. Fisionomias severas, acompanhavam com olhos investigativos, quem quer que passasse por lá. O outro olheiro mal podia ser visto. Era um homem postado no alto da laje de um barraco de dois andares. Tinha um rádio comunicador pelo qual falava.

A subida asfáltica parecia sem fim. Cada topo vencido era sucedido por outro. Todos os quebra-molas da Vila Ideal tinham falhas no centro. “Quando a prefeitura veio fazer os quebra-molas, os traficantes mandaram os operários deixar uma passagem no meio. Isso é para eles fugirem de moto dos camburões”, contou o guia. Disfarçadamente, ao longo da caminhada, ele apontava para becos escuros e muros opostos à via, onde mais grupos de jovens comunicavam por rádio a situação de seu trecho para os traficantes.

Deixando a Vila Ideal, a parte baixa do Duval de Barros é chamada Curumim. Lá também há olheiros, sempre jovens vestidos com roupas esportivas coloridas, bonés e enfeitados por brincos, piercings e correntes grossas. Ficam em praças e espaços públicos próximos aos acessos, vigiando o movimento. Inúmeras casas vazias, sem portas e janelas, pichadas com inscrições indecifráveis, são aviso a quem se opõe aos traficantes. “Quem criou problema foi expulso. A ameaça de morte não é só para quem enfrenta os traficantes, mas também para quem não tem a simpatia dos meninos. Até um sargento da PM que morava aqui saiu fugido”, conta um morador. “Aqui no Curumim eles matam só para ver para qual lado a pessoa vai tombar”, alerta outro vizinho dos criminosos.

Três grupos controlam a região do bairro Duval de Barros. A parte baixa, cortada pela Rua Bonsucesso, é território da narcotraficante “Lucinha”. Acredita-se que ela atue como entreposto de drogas de um traficante de fora da comunidade, possivelmente de Belo Horizonte ou Contagem. Na região do Curumim, próximo à Vila Ideal, que dita as ordens é uma quadrilha de assaltantes, que tem à frente o pistoleiro conhecido como “Vô”. Especialistas em extorquir comerciantes, ameaçam saquear quem não paga pedágio e ainda expulsam pessoas indesejadas.

“Na parte alta, próximo á Praça do cfristo, o chefe do tráfico de drogas é conhecido como Alemão”. Com mandados de prisão por tráfico e assaltos pesando sobre ele, o criminoso não tem sido visto, por enquanto, pela vizinhança. Seu irmão e principal matador da quadrilha, conhecido como “Juninho”, foi preso há poucos meses. “Eles estavam implantando o terror. Matavam as pessoas e depois faziam churrasco para comemorar”, informou um policial.

Fica Vivo só volta no segundo semestre

O fracasso do núcleo de combate à criminalidade Fica Vivo!, na Vila Ideal, em Ibirité, foi precedido de tensão e de intimidações dos funcionários que lá trabalhavam. A denúncia foi feita pelos próprios trabalhadores e voluntários, que estiveram no programa por dois meses e viram o local ser atacado e saqueado por criminosos que dominavam a favela. Para os atendentes, o isolamento do poder público e a falta de políticas sociais para a comunidade impossibilitaram sua integração com os moradores.

O programa será repensado para a realidade local e só voltará a funcionar no segundo semestre, depois de intenso trabalho com a comunidade, informou a superintendente de prevenção à criminalidade da Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS), Márcia Cristina Alves.

“O caminho é só pela comunidade. Já iniciamos um processo de reconstrução, chamando os moradores para o local. Estamos investindo na mobilização da comunidade, chamando uma rede de oficineiros, de associações e instituições locais e a prefeitura para conseguir fechar um trabalho sólida para reabrir o Fica Vivo no segundo semestre”, garante Márcia Cristina. O processo é orçado em R$ 370 mil neste ano.

A avaliação dos núcleos instaladdos nas cinco áreas de Belo Horizonte demonstraram, de acordo com informações da SEDS, uma queda média de 14% na taxa de homicídios. Hoje, são atendidos 13 mil jovens em Minas Gerais. De acordo com Márcia Cristina, novas unidades serão abertas em Uberaba e Juiz de Fora, ainda neste ano. Nas favelas do Alto Vera Cruz e Ribeiro de Abreu, na capital, o programa será ampliado.

A prefeitura de Ibirité informou, por meio de nota, que tem feito investimentos em segurança pública. Como a “construção do pelotão especial da PMMG, no centro de Ibirité, a implantação da Delegacia Seccional da Polícia Civil, convênios de apoio logístico às polícias, construção do Batalhão da PMMG no Complexo do Cristo com capacidade para até 1.500 policiais e um heliponto”, dizia o documento. Com relação ao Programa Fica Vivo!, a nota informa que “a atual administração abraçou o projeto, desde os primeiros contatos para a implantação”.

Império das drogas em Minas Gerais

Fotos: Mateus Parreiras









(Menores presos na Delegacia de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad), com 2 quilos de crack, uma balança de precisão e uma pistola PT-380)

Plantio, morte, transporte, morte, estoque, morte, tráfico, morte, consumo, morte, dependência, morte, tratamento e morte. Nesta série de reportagens, indicada ao Prêmio Imprensa Embratel 2006, os repórteres Mateus Parreiras, Carlos Calais e a editora do Caderno Minas, Leida Reis, pesquisaram durante quase um mês o mundo das drogas no estado.

Nas favelas mais violentas, em festas de classe média, dentro dos apartamentos de famílias tradicionais, encontramos a droga e a morte. Aqui, reuni apenas minhas matérias, já que ainda não pedi autorização aos colegas para publicar os trabalhos deles.

Pelo tempo escasso, a vasta abrangência do assunto e as dificuldades para encontrar fatos, fotos e rostos deu uma adrenalina a mais. Me disfarcei de crente, da igreja de um pastor do Rio de Janeiro, com a roupa toda abotoada e uma pastinha a tira-colo, para entrevistar as mulheres do tráfico dentro da prisão feminina e os traficantes presos no departamento de Investigações. Fui diversas vezes na Pedreira Prado Lopes, com a polícia e sozinho, com meus contatos. Varei a madrugada numa festa trance em Santa Luzia, acompanhando traficantes da classe média. Depois as histórias degradantes nas clínicas de recuperação. Foi bem completo e bem legal. Uma experiência muito rica e proveitosa, que em muito me amadureceu.

(Foto: Frederico Haikal)







(Submetralhadora artesanal, 9 milímetros, feita com armortecedor de automóvel por traficantes das favelas Pedreira Prado Lopes e Ventosa)

Série 'Drogas'

(HOJE EM DIA - 19/06/2006)

Mateus Parreiras

REPÓRTER

Homens empunhando armamentos pesados usam as vielas apertadas, casas antigas e barracos da favela Pedreira Prado Lopes, Região Noroeste de Belo Horizonte, como campo de batalha na guerra pelo comando do tráfico de drogas. Três facções diariamente disputam a hegemonia do lucrativo comércio de crack. A droga gera uma receita de cerca de R$ 500 mil por fim de semana, segundo estimativas da polícia. Além dos tiroteios e execuções nas portas das casas de trabalhadores e estudantes, moradores daquele aglomerado convivem ainda com restrições de acesso às escolas e serviços públicos em territórios disputados. A Pedreira está na mira da polícia, mas é um dos oito aglomerados da capital onde o tráfico de drogas é pesado. Os traficantes também têm atuação marcante na Cabana do Pai Tomaz, Morro do Papagaio, Cafezal, Vila Marçola, Morro das Pedras, Taquaril e Favela da Ventosa.

Na Pedreira, as quadrilhas ocupam as partes alta e baixa da vila. São remanescentes da estrutura organizada na década de 1980 pelo narcotraficante Roni Peixoto de Souza - preso desde 2003, na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. O antigo grupo de Roni separou-se depois da sua prisão por rivalidades internas. No alto da Pedreira, de acordo com a inteligência da PM, o tráfico é dominado por um bando ainda ligado ao traficante. Os líderes são conhecidos como ‘Rogério Negão‘ - que foi preso no dia 4 deste mês -, e ‘Knorr‘. A região de influência dos acusados é a área compreendida entre as ruas Carmo do Rio Claro, Guapé, Serro e Mariana. Isolada na parte superior do aglomerado, a gangue é rival das duas demais que atuam abaixo.

Para combater os inimigos e a PM, usam armamento pesado. Com eles foram encontrados até coletes a prova de balas e um fuzil 7.62 - calibre semelhante à munição do fuzil automático leve (FAL), que é exclusiva das forças armadas -, além de submetralhadoras nove milímetros israelenses e de pistolas 380 e nove milímetros.

As outras duas organizações do tráfico, situadas na parte baixa, atrás do Conjunto IAPI, são aliadas. Têm um fornecedor de crack em comum, conhecido como ‘Leitão‘. A mais poderosa delas e, segundo a PM, a mais lucrativa de toda favela, é a Gangue do Terreirão, liderada por Adão. Ele e seu braço direito, conhecido como ‘Filipinho‘, controlam a Rua Serra Negra e a ‘Cracolândia‘ - local onde viciados consomem crack ao ar livre e avisam os narcotraficantes da aproximação da polícia -, nas ruas Araribá e José Bonifácio. Submetralhadoras e pistolas automáticas nove milímetros novas foram apreendidas pela polícia com seus integrantes.

Próximo, entre as ruas Serra Negra e Marcazita, o tráfico é gerenciado pela quadrilha da Marcazita, liderada por ‘Nêgo‘. Os irmãos ‘Thor‘, ‘Lazinho‘ e o traficante ‘Tonico‘, são gerentes das bocas de fumo. Com esse grupo, além das armas automáticas, policiais conseguiram apreender até granadas.

Segundo a polícia, apesar de conhecidos, os suspeitos de serem os líderes do tráfico rotineiramente escapam da Justiça, já que usam menores para assumir a posse das armas e drogas. Como Felipe de Souza, 19 anos, o ‘Filipinho‘, acusado de ser gerente das bocas de fumo da quadrilha do Terreirão. No dia 26 de maio, ele foi preso dentro de casa, junto com sua irmã, Keila de Souza, 20, e dois menores, de 15 e 16 anos.

De acordo com o capitão Walter Anselmo, do batalhão Rotam da Polícia Militar, o grupo guardava, no interior de um prédio alugado, bem atrás do barraco onde viviam, oito quilos de crack, meio de pasta-base de cocaína, 150 papelotes e 150 gramas de cocaína, 100 gramas de maconha, quatro carregadores de submetralhadora nove milímetros e um de pistola 380, R$ 1.180 e seis celulares. Felipe, aos prantos dentro da carroceria da viatura, disse ser perseguido pela polícia. ‘Entraram na minha casa e foram logo prendendo a gente. Essas coisas daí (as drogas) não são minhas não. Nem estavam na casa. A polícia me persegue desde quando tinha 17 anos e fui preso guardando umas armas para o pessoal do movimento. Era uma 12 (escopeta), uma pistola 380, um 38 e um colete. Agora, não mexo mais com isso não‘, garante o acusado.

Para os policiais, o suspeito agora usa os menores para se safar, como antes fizeram com ele. ‘Nós armamos uma campana. Ficamos desde cedo vigiando eles pulando o muro e circulando com a droga. Entramos no prédio, apreendemos o material e depois prendemos eles. Como sempre, se o menor assumir, eles são soltos‘, lamenta o capitão Anselmo.

Seduzidas pelo tráfico

(HOJE EM DIA - 20/06/2006)

Mateus Parreiras

REPÓRTER


O poder e o lucro considerado fácil do tráfico de drogas seduzem mulheres e adolescentes humildes dos aglomerados. Seja pela oferta de dinheiro superior à do mercado de trabalho comum, acesso ao tóxico, ou levadas por um «amor bandido», as «esposas do narcotráfico» colaboram para essa perigosa atividade. Nas bocas-de-fumo, como distribuidoras, ou usadas para guardar entorpecentes e armas dentro das suas casas, elas se enveredam por um caminho ingrato. Quase sempre são abandonadas quando a polícia prende seus companheiros. Pela violência, medo e ameaças, confessam autorias de crimes ou posse de material ilícito sozinhas, amargando processos e difíceis estadas nas cadeias.

Entre as 72 internas da carceragem do 16º Departamento de Polícia, na Pampulha, - onde há vagas para 50 mulheres -, grande parte delas são ligadas ao tráfico de drogas ou foram detidas por furto, afirma o delegado titular, Hélcio Sá Bernardes. «Essa é a história que muitas delas contam mesmo. Que o companheiro as usou para cometer crimes, ou que fizeram isso por dificuldades financeiras. O fato é que cometeram um crime e terão de responder por ele», disse o policial.

Histórias como a de F., 36 anos, presa há quatro meses na 16º Delegacia por tráfico de crack. Moradora da Zona Norte de Belo Horizonte, ingressou no comércio de entorpecentes convencida por um casal de amigos. «Antes trabalhava em um frigorífico. Tirava R$ 350 por mês. Há uns seis meses minha vizinha disse que o marido dela estava colocando ela para vender crack. Que dava para tirar até R$ 1 mil por dia. Resolvi entrar nessa também», lembra.

Sem a ciência do marido, Fabiana começou a vender crack em uma boca-de-fumo perto de seu bairro. O marido da colega trazia o tóxico do interior de uma favela vizinha, e elas vendiam em uma oficina. «Vinha gente de tudo quanto é tipo para comprar. Adolescente, adulto, pai de família, trabalhador. Qualquer um que viesse. Já vendia as pedrinhas, de R$ 5 e R$ 10», conta, garantindo que ela mesma nunca experimentou o sabor da droga.

Foi depois de uma batida da polícia, que o mundo de F. veio abaixo. «O marido da minha colega pagava a polícia. Não sei bem como é que era. Parece que o gerente de uma boca perto tinha ’treta’ (acordo) com outros policiais, e eles deram uma batida na oficina. O marido dela ficou doido quando viu que estava cercado e ficou gritando e tremendo, fazendo ameaças. Disse que matava a gente se não disséssemos que o bagulho (entorpecente) era nosso. Foi aí que nós duas fomos presas», recorda.

Mãe de sete filhos, F. viu seu relacionamento com o marido e a família ser duramente prejudicado com a sua prisão. «Meu marido ficou chocado. Meus filhos menores, de 2 e de 5 anos, não entendem que estou presa. Acham que estou no trabalho e quando me visitam, pensam que minhas colegas são colegas de trabalho. Aqui na cadeia tive tempo para pensar e acabei encontrando a igreja. Quero pagar o que devo e sair limpa. Voltar para minha família, né. Agora vejo que fui boba, e que muita gente como eu não pensa no mal que faz para os outros. Agora penso muito nos meus filhos, que eles podem virar drogados também», teme F.

Sua companheira de cela, S., 42, dois filhos, também se diz recuperada. A participação no tráfico se deu porque era viciada. «Usei maconha por 12 anos. Fiquei curiosa com o crack e acabei usando. Quando comprei de um traficante amigo meu para vender, acabei presa no meio da rua por um policial à paisana», disse.

«Concubinas» aliciadas pelos traficantes

Adolescentes ficam impressionadas com a imagem de poder dos traficantes de drogas com suas armas de fogo, calçados da moda, correntes de ouro e roupas caras conseguidas com o dinheiro sujo dos entorpecentes. Então, elas são aliciadas e usadas como «concubinas» e «laranjas» em favelas de Belo Horizonte. São comuns casos de meninas alugadas pelos narcotraficantes para servirem como vigias e guardiãs das armas e dos tóxicos estocados. O status efêmero que ganham na comunidade não lhes vale de nada quando são detidas ou simplesmente trocadas por outras pelos companheiros.

Essa realidade perversa pode ser constatada na Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad) da Polícia Civil. O delegado chefe, Dagoberto Alves Batista, considera a situação um problema social. «As adolescentes são vítimas. A família não tem como enfrentar o poder dos bandidos, e entrega ou desiste da filha. Essas meninas acabam exploradas sexualmente pelos traficantes. E eles não tem compromisso nenhum. Se elas se viciam e começam a dar trabalho demais, eles as abandonam. Sem o suporte dos criminosos, deixam de ser aviões - quem transporta drogas -, e começam a cometer pequenos furtos para manter o vício», diz o policial.

Por R$ 1.500, segundo a Polícia Militar, quatro adolescentes do Aglomerado da Urca, na Região da Pampulha, de 13, 14, 15 e 17 anos, eram contratadas por sete traficantes para guardar drogas, armas, avisar da aproximação de policiais, além de terem se tornado servas sexuais. Elas foram detidas no dia 6 de abril, após denúncias de conflitos armados na favela.

Detidos, Alexandre Almeida, 20, Lucas Diego Moreira Viana, 21, Marcos Vinícios de Cardoso, 19, Diego Rogério Bastos da Silva, 18, Douglas Arley de Oliveira, 19, e Wanderley Almeida, 19, foram levados para o Departamento de Investigações da Polícia Civil. A polícia afirma que são conhecidos traficantes do local, mas eles negam a atividade. Com o grupo estavam duas fardas do Exército, uma da PM, duas balas de festim calibre 7.62, de uso exclusivo das Forças Armadas, um revólver calibre 38, um 22 e uma pistola 380. Além disso, maricas, cachimbos e uma balança suspeita de ser usada para pesar tóxicos.

(HOJE EM DIA - 23/06/2006)

Desafio da PM é evitar que traficantes usem menores

Mateus Parreiras

REPÓRTER

Policiais ilhados em morros sob fogo cerrado de armas pesadas, se escondendo atrás de muros e esquinas, enquanto traficantes lançam granadas e fogem favela adentro. As cenas são comuns em São Paulo e no Rio de Janeiro. De acordo com o comandante do Comando de Policiamento Especializado (CPE) da Polícia Militar de Minas Gerais, responsável pelo combate direto às quadrilhas do tráfico de entorpecentes, coronel Sandro Teatini, esse tipo de situação não ocorre no Estado. Ele afirma que a PM mineira tem meios mais sofisticados e poder superior ao dos criminosos. Para o coronel, o maior desafio da polícia é tirar de circulação narcotraficantes que usam menores para assumir seus crimes, e acabam voltando à atividade.

Quando o policiamento regular não debela a ação de traficantes ou grupos armados nos aglomerados, entra em operação o critério do uso progressivo da força pelo CPE. O primeiro enfrentamento é feito geralmente pelo Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam), que tem mobilidade e a missão de fustigar os criminosos e persegui-los, orientado pelos mapeamentos e informações. É o campeão de apreensões e prisões do CPE. Em conjunto pode atuar o policiamento aéreo. Caso a força empregada não seja suficiente, o próximo combate cabe à elite da PM, o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), que tem armamento e equipamento superior.

Em outras situações, como cercos e blitze, são utilizados o Batalhão de Eventos, para sufocar os suspeitos ocupando acessos de aglomerados, a Polícia Rodoviária Estadual (PRE) e o Batalhão de Trânsito, que controlam os acessos da cidade. «É tudo coordenado e feito com estratégia», garante o coronel Teatini.

O CPC possui, fora do policiamento ostensivo, feito por militares a pé e patrulhando em motos e viaturas, duas unidades com treinamento e poder de fogo capaz de lidar com gangues de traficantes. O que age mais próximo às bocas de fumo e esconderijos de traficantes em favelas é o Grupo Especializado de Prevenção em Área de Risco (Gepar).

Segundo o assessor de Comunicação Social do CPC, major Rogério Andrade, outra área de relevância fundamental é o levantamento de inteligência dos homens que trabalham à paisana (P2) e colhem informações da ação das quadrilhas e movimentação de traficantes. «Falta o cidadão se encorajar e denunciar anonimamente, não acolher o traficante, nem suas promessas de dinheiro fácil», defende.

Policiais que viram traficantes

Mateus Parreiras e Carlos Calaes

REPÓRTERES

O envolvimento de policiais com o tráfico de drogas no Estado é considerado baixo, mas, de acordo com as corregedorias da Polícia Militar e Civil, e Ouvidoria Geral de Polícia de Minas Gerais, as denúncias aumentaram 18% entre 2004 e 2005, passando de 11 para 13 casos no período. «Em Minas, não estamos livre deste problema. Aqui não é diferente», admite o secretário-adjunto da Defesa Social, Luís Flávio Sapori. Para tornar mais independente o trabalho das corregedorias, informa, elas serão reunidas num único prédio, no Bairro Cruzeiro.

No ano passado, as denúncias por envolvimento de policiais com o tráfico de drogas representaram apenas 0,82% do volume total de 1.568 registros na ouvidoria. O abuso de autoridade (320) e a ameaça (59) foram, respectivamente, as queixas mais freqüentes da Polícia Militar e Civil ao órgão. São 12 militares e dez civis investigados pelo artigo 12 (tráfico de entorpecentes) - sete na Capital e seis no interior -, mas, apenas um dos casos aguarda denúncia do Ministério Público Estadual. Os demais se encontram ainda à espera de solução nas corregedorias. Por outro lado, o número de envolvidos caiu 18% entre 2004 e o ano passado, passando de 27 para 22 policiais. A quantidade de policiais que denunciam colegas também aumentou.

A colaboração de policiais com o tráfico é gravíssima, avalia o ouvidor-geral de polícia, José Francisco da Silva. «São eles que deveriam combater o crime e não se valer da autoridade outorgada pelo Estado para cometer atos criminosos», afirma. O ouvidor não sabe especificar se as denúncias reduzidas são fruto de poucas queixas ou da disciplina e combate deste desvio de conduta pelas corporações, mas percebe que as punições são difíceis. «O papel da Ouvidoria é cobrar das corregedorias ações mais ágeis e enérgicas para a solução dessas acusações. O que acontece é que as investigações dependem da Justiça, muitas vezes para quebras de sigilo telefônico e bancário, por exemplo», conta o ouvidor.

Mesmo quem acaba sendo realmente processado, ainda consegue benefícios, alguns deles até permanecem em serviço. Isso, segundo o ouvidor de polícia, se aplicaria a todos os desvios e não somente ao tráfico. «O estatuto da Polícia Civil obriga agentes indiciados em processos criminais a entregar a sua arma e distintivo imediatamente. Como todo processo, cabem apelações e recursos. Com o militar denunciado a situação é ainda mais cômoda, uma vez que cabem seis graus de recursos e o policial ainda é, no máximo suspenso, até que seja condenado ou absolvido», disse o ouvidor de polícia.

Na zona boêmia

Em setembro de 2003, a coragem de uma prostituta, Silvia Helena de Menezes, 49 anos, acabou com um esquema de dez policiais civis e cinco militares que obrigavam prostitutas a atuarem no tráfico de drogas na zona boêmia de Belo Horizonte, Centro da cidade. A Justiça concluiu que elas eram obrigadas a receber drogas como cocaína, crack e maconha dos policiais, vendê-las a seus clientes sexuais e repassarem o dinheiro. O esquema funcionou durante vários meses.

No dia 10 de outubro de 2003, os dez policiais civis foram condenados a uma pena total de 134 anos e seis meses de prisão pelo juiz da 3ª Vara de Tóxicos do Fórum Lafayette, José Eustáquio Lucas Pereira. Quatro PMs foram condenados. Hoje, Silvia Helena está no Programa de Proteção a Testemunhas (Provita), ganhou nova identidade e mora em uma cidade mineira. «Foi o caso mais estarrecedor de toda minha carreira, pelo fato de condenar policiais por tráfico», avaliou o juiz José Eustáquio Lucas Pereira. Qualquer denúncia contra policiais é sigilosa e deve ser feita à Ouvidoria pelo telefone 0800-2839191 (C.C.).

Abandonados pela corporação

Os olhos vermelhos e as olheiras pela falta de sono, mãos trêmulas e agitadas, e a inquietude de um andar constante descrevem uma pessoa bem diferente do cabo M., que entrou para a Polícia Militar aos 20 anos, em 1986. Um homem com disposição para enfrentar o crime e as situações de alto risco da profissão. Insone, deprimido, com a mente atormentada pelas lembranças das guerras diárias contra traficantes, da carnificina do trânsito e perda de colegas, o militar está afastado há quatro anos, fazendo tratamentos psiquiátricos.

Foi em uma de suas estadas no Hospital Espírita André Luiz, onde 70% da ocupação da área psiquiátrica é de policiais militares, que ele trouxe relatos impressionantes do sofrimento dos parceiros dependentes de drogas e álcool, além de críticas contundentes à corporação.

«Estou acabado. Tenho 40 anos e estou acabado. Não consigo dormir. Sonho e lembro direto de pessoas mortas, mutiladas, de crianças, de parceiros de 19 anos mortos por bandidos. Minha vida com a família está acabada. Nunca tive apoio da corporação. Aliás, muitos policiais escondem esses problemas do resto do quartel. Primeiro, porque você não consegue apoio, acompanhamento psicológico, nem licença para tratamento. Segundo, porque fica exposto e é descriminado pelos colegas. Aí, o cara (PM) cai no álcool mesmo. Se envolve com drogas, fica nervoso, tenso no meio das operações, comete erros», enumera M. (M.P.).

Serviço secreto

Dentro do Hospital Psiquiátrico, a maioria dos policiais envolvidos com drogas era de homens do serviço secreto da corporação. «Era mais o pessoal da ’P2’, infiltrado em gangues e quadrilhas barras pesadas. Os caras (policiais) contavam que os vagabundos consumiam e, mesmo desaconselhados pela polícia, eles acabavam usando também. Era para não levantar suspeitas, né. O cara acha que consegue controlar. Usa, usa, usa e depois, quando sai daquilo, tendo acabado o serviço ou não, já está viciado. Aí, é o inferno. O preconceito dos colegas. Acaba com a vida do sujeito», afirma o cabo.

De todos os problemas que afligem os militares, o alcoolismo era o mais visível. «Foi o que mais eu vi lá. Só que tinha alcóolatra que começou a beber desmedido por falta de suporte mesmo. Para se ter uma idéia, não me aposentaram até hoje. Quando ia para as operações, ficava mais afastado. Se precisasse, atirava, no calor do momento», confessa.

De acordo com o assessor de imprensa da Polícia Militar, tenente-coronel Alexandre Salles, policiais recebem orientação psicológica. No entanto, ele não dispunha de dados e alegou não interessar à corporação a divulgação do trabalho nos hospitais psiquiátricos que cuidam de PMs (M.P.).

Apreensões de drogas

Resultado do trabalho das polícias em Minas Gerais

POLÍCIA FEDERAL (MG)

2005

Cocaína/crack - 83,01 kg

Maconha/Haxixe - 430,09 kg

Ecstasy - 1.198 comprimidos

2006*

Cocaína/crack - 138,53 kg

Maconha/Haxixe - 1.070,02 kg

Ecstasy - 52 comprimidos

EM BELO HORIZONTE

2005

Cocaína** - 25,75 kg

Maconha e Haxixe - 61,08 kg

2006 (*)

Cocaína/crack - 71,97 kg

Maconha e Haxixe - 593,12 kg

(*) até 31/05/2006


POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

2005

Maconha - 83 kg

Cocaína - 2,5 kg

Crack - 0,625 kg

POLÍCIA CIVIL

2005

Maconha - 697,27

Cocaína - 42,34

Haxixe - 11,60 gramas

2006 (até 5/5/06)

Maconha - 2.459,66 kg

Cocaína - 28,141 kg

Haxixe - 146,50 gramas

Armas - 56

COMANDO DOS BATALHÕES ESPECIALIZADOS DA PMMG

2005

Apreensões - 1.101

Ocorrências de tráfico/uso de drogas - 1.973

Maconha - 595,135 kg/ 8.305 buchas

Crack - 79,165 kg/17.870 pedras

Cocaína - 25,019 kg/ 2.803 papelotes

Armas de fogo - 1.785

Prisões - 7.087

2006 (até maio)

Presos - 2.789

Apreendidos (menores) - 479

Armas de fogo - 1.003

Maconha - 603,91 kg/ 4.456 buchas

Crack - 19,9 kg/ 6.569 pedras

Cocaína - 4,615 kg/ 2.187 papelotes

COMANDO DO POLICIAMENTO DA CAPITAL DA POLÍCIA MILITAR (CPC-PMMG)

2004

Ocorrências por posse de tóxico - 2.971

Ocorrências de tráfico - 1.057

Armas de fogo - 1.962

Armas brancas - 2.278

Prisões - 27.760

Apreensões (menores) - 9.422

2005

Ocorrências por posse de tóxico - 3.637

Ocorrências de tráfico - 1.489

Armas de fogo - 1.616

Armas brancas - 1.057

Prisões - 29.695

Apreensões (menores) - 6.018

OPERAÇÕES POLICIAIS DO CPC

(Janeiro a maio)

2005 2006

Operações policiais

46.359 61.392 (aumento de 61.392%)

Incursões em favelas

2.750 4.112 (aumento de 49,53%)









(Pastor carioca Marcos Pereira da Silva prega para presas da 16ª Delegacia Distrital de Belo Horizonte)

(HOJE EM DIA - 24/06/2006)

Em celas superlotadas, luta pela reabilitação

Mateus Parreiras

REPÓRTER

Nas abarrotadas penitenciárias mineiras, os presos encontram poucas chances de reabilitação. Mas alguns acabam deixando de comercializar drogas, após o trabalho de conversão feito por religiosos. A Secretaria de Defesa Social incentiva o trabalho de igrejas nos locais, por acreditar que ele ameniza o clima de tensão entre os detentos.

Preso no Departamento de Investigações (DI) da Polícia Civil por tráfico de crack na Rua Santos Dumont, quando foi flagrado por uma das câmeras do sistema de vigilância Olho Vivo, há seis meses, Adriano Ferraz dos Santos, 18 anos, se diz arrependido do que fez. «Era viciado em cocaína desde os 17. Comecei fumando maconha com os colegas de colégio. Agora, um religioso que esteve aqui me fez ver que na ânsia da droga precisei de cada vez mais e que fiz coisas erradas. Por isso tenho de pagar».

Enrolados em cobertores sujos sobre o chão frio das oito celas escuras e superlotadas do DI, «soldados» e «aviões» do tráfico de drogas presos em condições precárias e humilhantes reclamam da falta de visitas, de contato com advogados e do frio nas masmorras do subsolo do departamento. Tossem e espirram dentro das celas superlotadas.

«Assim não dá para pensar em reabilitar não. Traficava porque minha vida era horrível. Morava numa casa fodida e minha mãe e meus seis irmãos passavam fome. Queria o dinheiro para ter as coisas. Roupas chiques, ficar bonito para as meninas. Mas ai fui preso quando ia jogar futebol. Tinha 14 pedras de crack e a Rotam me pegou. Revistaram e acharam. Me deram umas porradas. Me pediram R$ 5 mil para liberar. Preferi não pagar, porque é melhor pagar na delegacia. Mas o delegado não fez jogo e desci aqui pro DI», lembra L., preso na Zona Norte da cidade no mês passado.

Promotor vê «tráfico controlado»

A situação do tráfico de drogas em Belo horizonte está sob controle, pois a polícia ainda tem acesso a todas as favelas e não se tem notícias de armas pesadas nesses locais. A avaliação é do promotor de Justiça Jorge Tobias de Souza, coordenador da Promotoria de Tóxicos de Belo Horizonte há dois anos, onde atua com outros cinco promotores na avaliação dos processos que tramitam nas três Varas de Tóxicos do Fórum Lafayette.

«Ainda estamos longe das situações vividas em São Paulo e Rio de Janeiro. O Governo do Estado tem investido em suas polícias, que têm realizado bom trabalho, com apreensões de drogas e prisões de traficantes. Mas o trabalho pode melhorar», afirma. Souza já foi policial militar e atuou nos morros cariocas antes de ingressar no Ministério Público Estadual. «Posso dizer que a situação em Belo Horizonte não se compara à do Rio de janeiro, pois, como capitão da PM, subi várias vezes os morros cariocas», garante.

Ele elogia os trabalhos desenvolvidos pelas polícias e medidas como o «Olho Vivo» - sistema de monitoração de câmeras eletrônicas que reduziu em 40% a criminalidade no hipercentro de Belo Horizonte, estendido para outras cidades. Souza também adverte para o que ele chama de fragmentação do tráfico de drogas, que são pessoas que, sem antecedentes criminais, mas por por falta de empregos, acabam vendendo pequenas quantidades de droga. «Essa é uma situação que tem chamado a atenção em Belo Horizonte», explica o promotor.

Com relação ao alto número de mortes e prisões de «aviões», enquanto a prisão de traficantes importantes é coisa rara, o promotor faz uma comparação: «Numa guerra, você não vê nenhum general morrer, só os soldados. É isso que acontece também no mundo do tráfico, os pequenos traficantes é que ficam na linha de frente, têm mais visibilidade», compara.

Para o promotor, o grande traficante não tem contato com a droga e não será preso nesse caminho. Ele só será preso por investigações que abordem os crimes do sistema financeiro, por lavagem de dinheiro e aplicação financeira em nome de terceiros.

(HOJE EM DIA - 25/06/2006)

Droga sintética seduz jovem de classe média

Mateus Parreiras

Repórter

Envoltos pela escuridão fria da madrugada, dançando até o amanhecer, embalados por um som hipnótico superpotente - o chamado bate-estaca -, jovens de classe média se envolvem com perigosas misturas de drogas sintéticas. As chamadas rave, que invariavelmente varam a madrugada e seduzem cada vez mais adolescentes. No mês passado, no Rio de Janeiro, 40 deles foram presos pela polícia quando seguiam, em um ônibus, para um desses eventos. Todos portavam drogas. Em 2005, pelo menos três rapazes que traficavam em raves de Minas foram denunciados à Justiça. Apenas dois foram condenados, mas cumprem pena em regime aberto.

Para mostrar como o consumo e a circulação das drogas são marcantes nessas ‘baladas‘, o HOJE EM DIA foi conferir a rave «Infected Mushroom», no Mega Space, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Naquela madrugada do dia 28 de maio, o público era superior a 10 mil pessoas. No meio da multidão, o traficante V comercializava drogas abertamente, com ajuda de três parceiros. Os jovens que freqüentam as raves, geralmente montadas em locais afastados e amplos para evitar controle maior das autoridades, chegam sempre em grupos. A «Infected Mushroom» começou às 23h30 de sábado, mas a maior parte do público chegou por volta das 3 horas do dia seguinte.

V. estacionou seu caro num local escuro. Um movimento intenso de grupos de jovens zanzava de um lado para o outro. Entre os veículos, no caminho para a portaria, havia uma roda de rapazes bebendo cerveja, exclamando repetidamente, aos risos: «Baleiro! Baleiro! Eu quero um baleiro!». «Aí, estão querendo comprar ecstasy», respondeu V, que preferiu não se expor do lado de fora, onde o policiamento era mais presente.

Já dentro do local da festa, a poucos metros da ampla pista de brita, uma grande fogueira afastada aquecia um pequeno grupo. A maioria do público se concentrava na pista, dançando freneticamente, como se estivesse numa espécie de transe coletivo. No ar, o cheiro característico de drogas, sobretudo de maconha, desafiava seguranças e policiais. Três PMs abordaram um rapaz de chapéu que havia acabado de fumar um baseado com sua turma. Os demais dispersaram quando os policiais se aproximaram. O jovem de chapéu foi revistado, mas logo liberado, apesar do cheiro forte da erva. Seus amigos voltaram em seguida, dando tapinhas em suas suas costas, rindo e caçoando dos militares.

A festa avança. Luzes multicoloridas remetem a um clima futurista e complementam o transe da galera. Garrafas de água são consumidas vorazmente. V explica que o consumo exagerado de água tem relação direta com o ecstasy, «É uma droga que deixa a gente com muita sede. A boca prega, muito mais do que maconha», disse.

As namoradas M, 22, e T, 24, freqüentam «baladas» do gênero há pelo menos cinco anos, quando iniciaram o romance. Desde então, usam drogas largamente, justificando que, assim, entram no clima da festa. «Quando comecei a freqüentar festinhas já fumava maconha e bebia vodca. Aqui conheci o haxixe, a cocaína, o ’doce’ (LSD) e a ’pastilha’ (ecstasy), entre outras drogas», disse a primeira.

Perguntada sobre que tipo de droga haviam consumido naquela noite, T respondeu que fumaram haxixe e tomaram ecstasy dissolvido em uma garrafinha d’água. «Uma vez fui presa com um ’back’ (baseado), caí no 16 (artigo do Código Penal relativo ao usuário)», lembrou. Segundo M, os efeitos do ecstasy combinam com o estilo da festa. «A gente viaja nas luzes e nos sons, no movimento das pessoas. Fora a sensação gostosa que corre no corpo. Dá vontade de abraçar todo mundo que está em volta, de encostar em quem se gosta. É por isso que é a droga do amor», definiu.

Violência gratuita e perda dos sentidos

Ao amanhecer, o traficante C reparte um LSD entre quatro amigos no meio da pista. Quase sincronizados, os jovens levantam seus óculos escuros. O cheiro da maconha está mais acentuado. Todos se desvencilham dos agasalhos suados, mas não param de dançar. C pára ao lado de um homem de cabeça raspada, camiseta branca e óculos escuros, que dançava bruscamente, com um sorriso travado, junto com outros amigos, três homens e duas mulheres, uma loira e outra morena. Alguns minutos depois, o cabeça raspada discute com elas. Esbraveja, grita alto e ameaçadoramente. Chuta brita na direção das mulheres, que correm temendo uma agressão física ainda mais extrema.

«Vai! Vai embora mesmo suas vadias! Vocês precisam de mim mesmo!», berrou. Quando elas se perdem na multidão, o cabeça raspada se volta para os amigos. Todos riem exageradamente. Pouco depois, as duas mulheres voltam a se aproximar do agressor, com fisionomias resignadas, fazendo-o voltar a rir delas. «Este é um dos maiores malas (traficantes) de pó (cocaína) da Zona Sul de BH», revelou C à reportagem.

Algumas horas antes do final da festa, o estrago causado pela maratona de drogas e dança que atravessaram a madrugada e seguiu sob o sol escaldante apresentou suas vítimas. Rapazes e moças são atendidos na enfermaria com sintomas de desidratação. Sobre a brita já quente, muitos jovens deitados foram socorridos, um deles, desacordado, foi levado de ambulância. A organização do evento informou que naquela noite havia 110 seguranças, 48 policiais militares, nove civis e oito agentes do Juizado da Infância e da Juventude. Foram detidas três garotas com identidade adulterada e nenhuma droga foi apreendida. Outras três raves estão previstas para o mesmo local até o final deste ano.

Origem

As festas rave surgiram em 1980, junto com o movimento cultural acid house de Chicago, Nova Iorque e Reino Unido. O nome adotado é inspirado em um festival caribenho realizado na década de 1960. Nos eventos de hoje, os freqüentadores dançam músicas eletrônicas como tecno, trance, drum’n’bass, entre outros. A festa pode durar até mais de um dia. Tudo na rave é montado para que o público entre em uma espécie de transe. O ambiente é decorado com cores marcantes e objetos psicodélicos harmonizados com luzes multicoloridas e lasers. Malabaristas, pirofagistas, acrobatas, dançarinos e artistas variados fazem performances. A diferença entre as raves e as apresentações em boates e clubes seria justamente a liberdade para que esse transe dure mais tempo.

Com o amanhecer, César e os amigos repartem dois LSDs que tinham entre os quatro amigos e os engolem na pista mesmo. Quase sincronizados, os jovens levantam seus óculos escuros. A fumaça cinzenta dos cigarros de maconha são mais visíveis. Todos se desvencilham dos agasalhos suados, sem cessar a dança.

Cesar pára ao lado de um homem de cabeça raspada, camiseta branca e óculos escuros, que saltava e se movimentava bruscamente, com um sorriso estático, junto com outros cinco amigos, três homens e duas mulheres, uma loira e outra morena. O informante cochicha várias vezes no ouvido do seu amigo e eles riem juntos. Alguns minutos depois, o rapaz de cabelo raspado discute com as mulheres. Esbraveja com elas com cara de zangado. Elas se afastam juntas. Ele grita mais alto e ameaçadoramente. Começa a chutar a brita do chão sobre as duas jovens bem vestidas, que correm para não serem atingidas pelas pedras.

«Vai! Vai embora mesmo suas vadias (sic)! Vocês precisam de mim mesmo», berrou para elas depois de tê-las afugentado. Quando elas partem, o homem de cabelo raspado olha imediatamente para os amigos, e todos riem exageradamente. Pouco depois, as duas voltam para perto do jovem agressor, com as fisionomias resignadas, fazendo-o voltar a rir delas. «Este é um dos maiores malas (traficantes) de pó (cocaína) da Zona Sul de BH», revelou Cesar, depois de ter se afastado do grupo.

Algumas horas antes do final da rave, o estrago causado pela maratona de drogas e dança que atravessou a madrugada e seguiu sob o sol escaldante apresentou suas vítimas. Rapazes e moças são atendidos com princípio de desidratação na enfermaria. Sobre a brita quente, muitos jovens deitados foram atendidos, um deles levado em ambulância. A organização do evento disse que havia 110 seguranças, 48 policiais militares, nove civis, e 8 agentes do juizado de menores no Mega Space. Foram detidas três garotas com identidade adulterada e nenhuma droga foi apreendida. A maioria dos casos atendidos na enfermaria, ainda de acordo com administração, foi de desidratação. haverá ainda três raves no espaço, neste ano.

O QUE É

As festas «Rave» começaram em 1980, junto com o movimento cultural ‘acid house‘ de Chicago, Nova Iorque e Reino Unido. O nome adotado é inspirado em um festival caribenho realizado na década de 1960. Nos eventos de hoje, os freqüentadores dançam músicas eletrônicas como tecno, trance, drum’n’bass, entre outros. A festa é longa, geralmente varando a madrugada até a manhã do dia seguinte, mas pode durar até mais de um dia. Tudo na rave é montado para que o público entre em uma espécie de transe. O ambiente é decorado com cores marcantes e objetos psicodélicos harmonizados com luzes e lasers. Malabaristas, pirofagistas, acrobatas, dançarinos e artistas variados fazem performances.

A diferença entre as raves e as apresentações em boates e clubes seria justamente a liberdade para que esse transe dure mais tempo. De acordo com o DJ Mob, de Belo Horizonte, nas raves o público fica mais descontraído. «É muito melhor um evento open air. As pessoas se soltam mais, porque não ficam trancadas dentro de uma boate. Não tem hora para acabar, há mais liberdade para montar as decorações e a estrutura. Tudo isso reflete nas músicas, no jeito de tocar. Dá para sentir a empolgação do público fluindo», acredita.

Anfetaminas na guerra

O mundo começa a pensar na redução de danos. Na década seguinte, em 1930, os Estados Unidos passam a proibir a maconha. Quase todos os países Ocidentais fazem o mesmo. Entre 1939 até 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, o hábito de fumar foi impulsionado. A tensão de participantes da guerra era tirada pelo cigarro. Na década de 1940, os primeiros pesquisadores que procuravam entender o LSD sugeriram que ele simulava um surto psicótico nas pessoas saudáveis.

(HOJE EM DIA - 26/06/2006)

SUS gasta apenas R$ 1,5 ao ano por paciente drogado

Mateus Parreiras

REPÓRTER

Apesar de considerado caso de saúde pública e até mesmo uma epidemia, o dinheiro investido pelo Sistema Unico de Saúde (SUS) no tratamento de dependentes químicos e de álcool é ínfimo. No ano passado, a média de gasto por paciente foi de R$ 1,52. Como havia 836.162 usuários registrados nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-ad) e hospitais conveniados, o investimento total foi de R$ 15,3 milhões no país. Em Minas Gerais, a média dos procedimentos hospitalares do SUS foi de R$ 14 mensais por dependente em tratamento, ou R$ 18,5 milhões no total. Para se ter uma idéia de quanto o valor é irrisório, o remédio psiquiátrico mais barato encontrado nas farmácias, o Gardenal 100 miligramas, com 20 pílulas, custa R$ 3,75 e dura menos de um mês.

Ministério da Saúde e a Subsecretaria Antidrogas consideram a dependência de álcool e drogas um problema de saúde social, não apenas pelos males físicos e psicológicos que causam aos usuários, mas também devido a reflexos na violência urbana, mortes no trânsito e desajustes familiares. A estimativa do ministério é de que 50% dos acidentes de veículos com vítimas envolvam motoristas que consumiram bebidas alcoólicas. Cerca de 9% dos brasileiros têm dependência do álcool e precisam de tratamento. E ainda, 30% das pessoas acima de 15 anos fazem uso nocivo do álcool.

O coordenador de saúde mental do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Delgado, diz que o gasto não é tão pequeno a ponto de desamparar o usuário. «Estes gastos não levam em conta o que é investido em programas como o Saúde da Família e programas de assistência básica. O programa de tratamento do SUS prevê internações breves em hospitais gerais. Sabemos que há poucos Caps-Ad. São 110 em Minas Gerais. Mas sua implantação depende de envolvimento dos municípios, pois são eles os gestores», justifica. Segundo ele, os Caps-ad têm de ficar próximos à comunidade para o tratamento sem internação, com a perspectiva de redução de danos, unindo a prevenção ao trabalho.

De acordo com a chefe da Divisão Assistencial do Centro Mineiro de Toxicomania - que é um Caps-ad -, Maria Wilma dos Santos Faria, o tratamento não se restringe ao uso de remédios. «Fazemos a pessoa acreditar que seu eu é mais forte que a química. O doente precisa descobrir por que motivos usa a droga para só então se desvencilhar dela», disse.

A Subsecretaria Antidrogas de Minas admite ter recebido, desde 2003, apenas R$ 10 milhões do Estado para investimentos na prevenção e assistência de toxicômanos. «É pelo álcool que os jovens estão começando a ingressar nas drogas. Temos a necessidade de melhorar as informações científicas. Precisamos investir mais nos dados científicos, não apenas nas imagens aterrorizantes, nas evidências da ação da droga no organismo. Programas como o Concurso de Frases e Desenhos, que envolve 40 mil crianças. Na estrutura da Secretaria de Educação, temos o «Tá na roda», o Programa Afetivo Sexual», enumera o subsecretário.

A classe média sobe o morro em busca de crack e cocaína

«Cheguei de madrugada na boca de fumo, sem dinheiro. Pedi para o cara a droga (crack). Ele ficou neurado (furioso). Disse para dar a camisa, a bermuda e o tênis. Me deu um short rasgado em troca de uma mixaria. Fui embora com frio. Os vizinhos que viram comentaram: Aquele menino lá é viciado em crack e vende as coisas de casa. Não dá sossego para os pais». O relato de V., 24 anos, morador da Região Centro-Sul, mostra que o crack, que parecia relegado às periferias, atingiu em cheio a classe média. Ele é um dos 53 internos da comunidade terapêutica Crer-Vip, onde a maioria dos pacientes de classe média tratam a dependência.

A primeira vez de cada um e a escalada entre várias drogas é a repetição da mesma história. A curiosidade, o ímpeto adolescente e as más companhias, somadas, afundaram jovens estudados, que teoricamente tiveram mais oportunidades pela condição financeira. «Foi aos 14 anos que comecei a fumar maconha. Um colega conseguiu um pouco e agente começou a fumar», lembra V..

«Com 17, cheirei cocaína com uma galera. Aproveitamos que os pais de um colega tinham viajado. Uns caras cheiravam carreiras sobre a capa de um CD. Vi o pessoal cheirando, e depois saindo agitado, dançando. Quis ver como era a onda e experimentei», conta V.

Aos 19 anos, conheceu o crack. «Fui à casa desse mesmo amigo. Bati na porta. Ele e os outros colegas estavam estranhos. Não me deixavam entrar. Insisti. Tinha R$ 30 no bolso. Vi eles assentados no chão fumando na lata de cerveja. Pedi para experimentar, mas resistiram. ’Não faz isso não que você vai viciar’. Não dei nem idéia. Quando fumei, me senti igual a um bicho. Escutava coisas. Quando acaba, vem uma puta depressão», afirma o jovem. Em poucas horas, os R$ 30 foram gastos.

Viciado, V. passou a subir ele mesmo a Pedreira Prado Lopes para comprar crack. «Quem busca é aplicado (recebe de graça), e eu já estava cabeção (quando precisa de doses cada vez maiores). Consumia tanto que não aguentava mais pagar. Comecei a vender minhas coisas», disse. Foi quando os pais desconfiaram. Achavam que era só maconha. Aí, começaram a sumir coisas em casa. «Inventava que tinha sido roubado ou que tinha perdido o que vendia. Minha mãe disse: ’Está acontecendo alguma coisa estranha com você, meu filho. Sua fisionomia está mudada». Depois foi o pai. «Os vizinhos tinham me visto sair com o DVD e contaram para ele. Aí desabafei: ’Pai, estou usando crack e não estou conseguindo mais controlar’», confessou.

Com apoio dos pais, V. foi internado em uma clínica, mas fugiu nos primeiros sintomas da abstinência. «Enganei meu pai. Disse que tava bom, que tinha melhorado, só que não estava». Assim como ele, depois do primeiro tratamento, e de algum tempo sem o uso, os jovens entrevistados acabaram encontrando companheiras e formando famílias.

Mas muitos chegam à instituição sob efeito do entorpecente, como H, 30 anos. «Cheirei cinco gramas de cocaína em uma hora. Entrei alucinado. Me trataram super bem. Mas, no início, tudo era ruim. A comida era ruim, ficar aqui era ruim. Com cinco dias me deu uma crise de abstinência. Resolvi pular o muro da quadra, de uns quatro metros. Pulei. Quebrei os dois joelhos. Foram 40 dias engessado, tempo para pensar que não era para estar aqui. Não precisava passar por isso». Com o restabelecimento de uma rotina de horários, de nove meses de atividades, conselhos e tratamento psicológico, os jovens resgatam aos poucos seu controle e consciência.

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Repórter do jornal Hoje em Dia, o jornalista Mateus Parreiras cobre o dia a dia do estado no caderno Minas (cidades) e produz também reportagens especiais. Formado em 2004 pelo UNI-BH, e desde setembro daquele ano no Hoje em Dia, o jornalista já conquistou o I Prêmio de Jornalismo de Interesse Público 2007 do Sindicato dos Jornalistas de MG, o Prêmio Crea-MG 2006, Volvo 2006 e foi três vezes finalista do Prêmio Embratel, em 2005, 2006 e 2008.

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