Projeto Infiltrado (Desde abril de 2007)

Será que um Projeto considerado perfeito, acima da Lei e corrupto, já não conta com infiltrações em seu âmago? Ou há um plano de comentar bastidores e posições dos que arquitetam essas manobras, sem filtros e de forma crítica? Pode ser que haja um esquema pronto para infiltrar nesses sindicatos negros e trazer a público o que muitos não sabem por acontecer nesses bastidores. Ao descobrir o significado do Projeto Infiltrado, você pode colaborar para sua própria execução.


segunda-feira, 21 de maio de 2007

Império das drogas em Minas Gerais

Fotos: Mateus Parreiras









(Menores presos na Delegacia de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad), com 2 quilos de crack, uma balança de precisão e uma pistola PT-380)

Plantio, morte, transporte, morte, estoque, morte, tráfico, morte, consumo, morte, dependência, morte, tratamento e morte. Nesta série de reportagens, indicada ao Prêmio Imprensa Embratel 2006, os repórteres Mateus Parreiras, Carlos Calais e a editora do Caderno Minas, Leida Reis, pesquisaram durante quase um mês o mundo das drogas no estado.

Nas favelas mais violentas, em festas de classe média, dentro dos apartamentos de famílias tradicionais, encontramos a droga e a morte. Aqui, reuni apenas minhas matérias, já que ainda não pedi autorização aos colegas para publicar os trabalhos deles.

Pelo tempo escasso, a vasta abrangência do assunto e as dificuldades para encontrar fatos, fotos e rostos deu uma adrenalina a mais. Me disfarcei de crente, da igreja de um pastor do Rio de Janeiro, com a roupa toda abotoada e uma pastinha a tira-colo, para entrevistar as mulheres do tráfico dentro da prisão feminina e os traficantes presos no departamento de Investigações. Fui diversas vezes na Pedreira Prado Lopes, com a polícia e sozinho, com meus contatos. Varei a madrugada numa festa trance em Santa Luzia, acompanhando traficantes da classe média. Depois as histórias degradantes nas clínicas de recuperação. Foi bem completo e bem legal. Uma experiência muito rica e proveitosa, que em muito me amadureceu.

(Foto: Frederico Haikal)







(Submetralhadora artesanal, 9 milímetros, feita com armortecedor de automóvel por traficantes das favelas Pedreira Prado Lopes e Ventosa)

Série 'Drogas'

(HOJE EM DIA - 19/06/2006)

Mateus Parreiras

REPÓRTER

Homens empunhando armamentos pesados usam as vielas apertadas, casas antigas e barracos da favela Pedreira Prado Lopes, Região Noroeste de Belo Horizonte, como campo de batalha na guerra pelo comando do tráfico de drogas. Três facções diariamente disputam a hegemonia do lucrativo comércio de crack. A droga gera uma receita de cerca de R$ 500 mil por fim de semana, segundo estimativas da polícia. Além dos tiroteios e execuções nas portas das casas de trabalhadores e estudantes, moradores daquele aglomerado convivem ainda com restrições de acesso às escolas e serviços públicos em territórios disputados. A Pedreira está na mira da polícia, mas é um dos oito aglomerados da capital onde o tráfico de drogas é pesado. Os traficantes também têm atuação marcante na Cabana do Pai Tomaz, Morro do Papagaio, Cafezal, Vila Marçola, Morro das Pedras, Taquaril e Favela da Ventosa.

Na Pedreira, as quadrilhas ocupam as partes alta e baixa da vila. São remanescentes da estrutura organizada na década de 1980 pelo narcotraficante Roni Peixoto de Souza - preso desde 2003, na penitenciária Nelson Hungria, em Contagem. O antigo grupo de Roni separou-se depois da sua prisão por rivalidades internas. No alto da Pedreira, de acordo com a inteligência da PM, o tráfico é dominado por um bando ainda ligado ao traficante. Os líderes são conhecidos como ‘Rogério Negão‘ - que foi preso no dia 4 deste mês -, e ‘Knorr‘. A região de influência dos acusados é a área compreendida entre as ruas Carmo do Rio Claro, Guapé, Serro e Mariana. Isolada na parte superior do aglomerado, a gangue é rival das duas demais que atuam abaixo.

Para combater os inimigos e a PM, usam armamento pesado. Com eles foram encontrados até coletes a prova de balas e um fuzil 7.62 - calibre semelhante à munição do fuzil automático leve (FAL), que é exclusiva das forças armadas -, além de submetralhadoras nove milímetros israelenses e de pistolas 380 e nove milímetros.

As outras duas organizações do tráfico, situadas na parte baixa, atrás do Conjunto IAPI, são aliadas. Têm um fornecedor de crack em comum, conhecido como ‘Leitão‘. A mais poderosa delas e, segundo a PM, a mais lucrativa de toda favela, é a Gangue do Terreirão, liderada por Adão. Ele e seu braço direito, conhecido como ‘Filipinho‘, controlam a Rua Serra Negra e a ‘Cracolândia‘ - local onde viciados consomem crack ao ar livre e avisam os narcotraficantes da aproximação da polícia -, nas ruas Araribá e José Bonifácio. Submetralhadoras e pistolas automáticas nove milímetros novas foram apreendidas pela polícia com seus integrantes.

Próximo, entre as ruas Serra Negra e Marcazita, o tráfico é gerenciado pela quadrilha da Marcazita, liderada por ‘Nêgo‘. Os irmãos ‘Thor‘, ‘Lazinho‘ e o traficante ‘Tonico‘, são gerentes das bocas de fumo. Com esse grupo, além das armas automáticas, policiais conseguiram apreender até granadas.

Segundo a polícia, apesar de conhecidos, os suspeitos de serem os líderes do tráfico rotineiramente escapam da Justiça, já que usam menores para assumir a posse das armas e drogas. Como Felipe de Souza, 19 anos, o ‘Filipinho‘, acusado de ser gerente das bocas de fumo da quadrilha do Terreirão. No dia 26 de maio, ele foi preso dentro de casa, junto com sua irmã, Keila de Souza, 20, e dois menores, de 15 e 16 anos.

De acordo com o capitão Walter Anselmo, do batalhão Rotam da Polícia Militar, o grupo guardava, no interior de um prédio alugado, bem atrás do barraco onde viviam, oito quilos de crack, meio de pasta-base de cocaína, 150 papelotes e 150 gramas de cocaína, 100 gramas de maconha, quatro carregadores de submetralhadora nove milímetros e um de pistola 380, R$ 1.180 e seis celulares. Felipe, aos prantos dentro da carroceria da viatura, disse ser perseguido pela polícia. ‘Entraram na minha casa e foram logo prendendo a gente. Essas coisas daí (as drogas) não são minhas não. Nem estavam na casa. A polícia me persegue desde quando tinha 17 anos e fui preso guardando umas armas para o pessoal do movimento. Era uma 12 (escopeta), uma pistola 380, um 38 e um colete. Agora, não mexo mais com isso não‘, garante o acusado.

Para os policiais, o suspeito agora usa os menores para se safar, como antes fizeram com ele. ‘Nós armamos uma campana. Ficamos desde cedo vigiando eles pulando o muro e circulando com a droga. Entramos no prédio, apreendemos o material e depois prendemos eles. Como sempre, se o menor assumir, eles são soltos‘, lamenta o capitão Anselmo.

Seduzidas pelo tráfico

(HOJE EM DIA - 20/06/2006)

Mateus Parreiras

REPÓRTER


O poder e o lucro considerado fácil do tráfico de drogas seduzem mulheres e adolescentes humildes dos aglomerados. Seja pela oferta de dinheiro superior à do mercado de trabalho comum, acesso ao tóxico, ou levadas por um «amor bandido», as «esposas do narcotráfico» colaboram para essa perigosa atividade. Nas bocas-de-fumo, como distribuidoras, ou usadas para guardar entorpecentes e armas dentro das suas casas, elas se enveredam por um caminho ingrato. Quase sempre são abandonadas quando a polícia prende seus companheiros. Pela violência, medo e ameaças, confessam autorias de crimes ou posse de material ilícito sozinhas, amargando processos e difíceis estadas nas cadeias.

Entre as 72 internas da carceragem do 16º Departamento de Polícia, na Pampulha, - onde há vagas para 50 mulheres -, grande parte delas são ligadas ao tráfico de drogas ou foram detidas por furto, afirma o delegado titular, Hélcio Sá Bernardes. «Essa é a história que muitas delas contam mesmo. Que o companheiro as usou para cometer crimes, ou que fizeram isso por dificuldades financeiras. O fato é que cometeram um crime e terão de responder por ele», disse o policial.

Histórias como a de F., 36 anos, presa há quatro meses na 16º Delegacia por tráfico de crack. Moradora da Zona Norte de Belo Horizonte, ingressou no comércio de entorpecentes convencida por um casal de amigos. «Antes trabalhava em um frigorífico. Tirava R$ 350 por mês. Há uns seis meses minha vizinha disse que o marido dela estava colocando ela para vender crack. Que dava para tirar até R$ 1 mil por dia. Resolvi entrar nessa também», lembra.

Sem a ciência do marido, Fabiana começou a vender crack em uma boca-de-fumo perto de seu bairro. O marido da colega trazia o tóxico do interior de uma favela vizinha, e elas vendiam em uma oficina. «Vinha gente de tudo quanto é tipo para comprar. Adolescente, adulto, pai de família, trabalhador. Qualquer um que viesse. Já vendia as pedrinhas, de R$ 5 e R$ 10», conta, garantindo que ela mesma nunca experimentou o sabor da droga.

Foi depois de uma batida da polícia, que o mundo de F. veio abaixo. «O marido da minha colega pagava a polícia. Não sei bem como é que era. Parece que o gerente de uma boca perto tinha ’treta’ (acordo) com outros policiais, e eles deram uma batida na oficina. O marido dela ficou doido quando viu que estava cercado e ficou gritando e tremendo, fazendo ameaças. Disse que matava a gente se não disséssemos que o bagulho (entorpecente) era nosso. Foi aí que nós duas fomos presas», recorda.

Mãe de sete filhos, F. viu seu relacionamento com o marido e a família ser duramente prejudicado com a sua prisão. «Meu marido ficou chocado. Meus filhos menores, de 2 e de 5 anos, não entendem que estou presa. Acham que estou no trabalho e quando me visitam, pensam que minhas colegas são colegas de trabalho. Aqui na cadeia tive tempo para pensar e acabei encontrando a igreja. Quero pagar o que devo e sair limpa. Voltar para minha família, né. Agora vejo que fui boba, e que muita gente como eu não pensa no mal que faz para os outros. Agora penso muito nos meus filhos, que eles podem virar drogados também», teme F.

Sua companheira de cela, S., 42, dois filhos, também se diz recuperada. A participação no tráfico se deu porque era viciada. «Usei maconha por 12 anos. Fiquei curiosa com o crack e acabei usando. Quando comprei de um traficante amigo meu para vender, acabei presa no meio da rua por um policial à paisana», disse.

«Concubinas» aliciadas pelos traficantes

Adolescentes ficam impressionadas com a imagem de poder dos traficantes de drogas com suas armas de fogo, calçados da moda, correntes de ouro e roupas caras conseguidas com o dinheiro sujo dos entorpecentes. Então, elas são aliciadas e usadas como «concubinas» e «laranjas» em favelas de Belo Horizonte. São comuns casos de meninas alugadas pelos narcotraficantes para servirem como vigias e guardiãs das armas e dos tóxicos estocados. O status efêmero que ganham na comunidade não lhes vale de nada quando são detidas ou simplesmente trocadas por outras pelos companheiros.

Essa realidade perversa pode ser constatada na Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcad) da Polícia Civil. O delegado chefe, Dagoberto Alves Batista, considera a situação um problema social. «As adolescentes são vítimas. A família não tem como enfrentar o poder dos bandidos, e entrega ou desiste da filha. Essas meninas acabam exploradas sexualmente pelos traficantes. E eles não tem compromisso nenhum. Se elas se viciam e começam a dar trabalho demais, eles as abandonam. Sem o suporte dos criminosos, deixam de ser aviões - quem transporta drogas -, e começam a cometer pequenos furtos para manter o vício», diz o policial.

Por R$ 1.500, segundo a Polícia Militar, quatro adolescentes do Aglomerado da Urca, na Região da Pampulha, de 13, 14, 15 e 17 anos, eram contratadas por sete traficantes para guardar drogas, armas, avisar da aproximação de policiais, além de terem se tornado servas sexuais. Elas foram detidas no dia 6 de abril, após denúncias de conflitos armados na favela.

Detidos, Alexandre Almeida, 20, Lucas Diego Moreira Viana, 21, Marcos Vinícios de Cardoso, 19, Diego Rogério Bastos da Silva, 18, Douglas Arley de Oliveira, 19, e Wanderley Almeida, 19, foram levados para o Departamento de Investigações da Polícia Civil. A polícia afirma que são conhecidos traficantes do local, mas eles negam a atividade. Com o grupo estavam duas fardas do Exército, uma da PM, duas balas de festim calibre 7.62, de uso exclusivo das Forças Armadas, um revólver calibre 38, um 22 e uma pistola 380. Além disso, maricas, cachimbos e uma balança suspeita de ser usada para pesar tóxicos.

(HOJE EM DIA - 23/06/2006)

Desafio da PM é evitar que traficantes usem menores

Mateus Parreiras

REPÓRTER

Policiais ilhados em morros sob fogo cerrado de armas pesadas, se escondendo atrás de muros e esquinas, enquanto traficantes lançam granadas e fogem favela adentro. As cenas são comuns em São Paulo e no Rio de Janeiro. De acordo com o comandante do Comando de Policiamento Especializado (CPE) da Polícia Militar de Minas Gerais, responsável pelo combate direto às quadrilhas do tráfico de entorpecentes, coronel Sandro Teatini, esse tipo de situação não ocorre no Estado. Ele afirma que a PM mineira tem meios mais sofisticados e poder superior ao dos criminosos. Para o coronel, o maior desafio da polícia é tirar de circulação narcotraficantes que usam menores para assumir seus crimes, e acabam voltando à atividade.

Quando o policiamento regular não debela a ação de traficantes ou grupos armados nos aglomerados, entra em operação o critério do uso progressivo da força pelo CPE. O primeiro enfrentamento é feito geralmente pelo Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam), que tem mobilidade e a missão de fustigar os criminosos e persegui-los, orientado pelos mapeamentos e informações. É o campeão de apreensões e prisões do CPE. Em conjunto pode atuar o policiamento aéreo. Caso a força empregada não seja suficiente, o próximo combate cabe à elite da PM, o Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), que tem armamento e equipamento superior.

Em outras situações, como cercos e blitze, são utilizados o Batalhão de Eventos, para sufocar os suspeitos ocupando acessos de aglomerados, a Polícia Rodoviária Estadual (PRE) e o Batalhão de Trânsito, que controlam os acessos da cidade. «É tudo coordenado e feito com estratégia», garante o coronel Teatini.

O CPC possui, fora do policiamento ostensivo, feito por militares a pé e patrulhando em motos e viaturas, duas unidades com treinamento e poder de fogo capaz de lidar com gangues de traficantes. O que age mais próximo às bocas de fumo e esconderijos de traficantes em favelas é o Grupo Especializado de Prevenção em Área de Risco (Gepar).

Segundo o assessor de Comunicação Social do CPC, major Rogério Andrade, outra área de relevância fundamental é o levantamento de inteligência dos homens que trabalham à paisana (P2) e colhem informações da ação das quadrilhas e movimentação de traficantes. «Falta o cidadão se encorajar e denunciar anonimamente, não acolher o traficante, nem suas promessas de dinheiro fácil», defende.

Policiais que viram traficantes

Mateus Parreiras e Carlos Calaes

REPÓRTERES

O envolvimento de policiais com o tráfico de drogas no Estado é considerado baixo, mas, de acordo com as corregedorias da Polícia Militar e Civil, e Ouvidoria Geral de Polícia de Minas Gerais, as denúncias aumentaram 18% entre 2004 e 2005, passando de 11 para 13 casos no período. «Em Minas, não estamos livre deste problema. Aqui não é diferente», admite o secretário-adjunto da Defesa Social, Luís Flávio Sapori. Para tornar mais independente o trabalho das corregedorias, informa, elas serão reunidas num único prédio, no Bairro Cruzeiro.

No ano passado, as denúncias por envolvimento de policiais com o tráfico de drogas representaram apenas 0,82% do volume total de 1.568 registros na ouvidoria. O abuso de autoridade (320) e a ameaça (59) foram, respectivamente, as queixas mais freqüentes da Polícia Militar e Civil ao órgão. São 12 militares e dez civis investigados pelo artigo 12 (tráfico de entorpecentes) - sete na Capital e seis no interior -, mas, apenas um dos casos aguarda denúncia do Ministério Público Estadual. Os demais se encontram ainda à espera de solução nas corregedorias. Por outro lado, o número de envolvidos caiu 18% entre 2004 e o ano passado, passando de 27 para 22 policiais. A quantidade de policiais que denunciam colegas também aumentou.

A colaboração de policiais com o tráfico é gravíssima, avalia o ouvidor-geral de polícia, José Francisco da Silva. «São eles que deveriam combater o crime e não se valer da autoridade outorgada pelo Estado para cometer atos criminosos», afirma. O ouvidor não sabe especificar se as denúncias reduzidas são fruto de poucas queixas ou da disciplina e combate deste desvio de conduta pelas corporações, mas percebe que as punições são difíceis. «O papel da Ouvidoria é cobrar das corregedorias ações mais ágeis e enérgicas para a solução dessas acusações. O que acontece é que as investigações dependem da Justiça, muitas vezes para quebras de sigilo telefônico e bancário, por exemplo», conta o ouvidor.

Mesmo quem acaba sendo realmente processado, ainda consegue benefícios, alguns deles até permanecem em serviço. Isso, segundo o ouvidor de polícia, se aplicaria a todos os desvios e não somente ao tráfico. «O estatuto da Polícia Civil obriga agentes indiciados em processos criminais a entregar a sua arma e distintivo imediatamente. Como todo processo, cabem apelações e recursos. Com o militar denunciado a situação é ainda mais cômoda, uma vez que cabem seis graus de recursos e o policial ainda é, no máximo suspenso, até que seja condenado ou absolvido», disse o ouvidor de polícia.

Na zona boêmia

Em setembro de 2003, a coragem de uma prostituta, Silvia Helena de Menezes, 49 anos, acabou com um esquema de dez policiais civis e cinco militares que obrigavam prostitutas a atuarem no tráfico de drogas na zona boêmia de Belo Horizonte, Centro da cidade. A Justiça concluiu que elas eram obrigadas a receber drogas como cocaína, crack e maconha dos policiais, vendê-las a seus clientes sexuais e repassarem o dinheiro. O esquema funcionou durante vários meses.

No dia 10 de outubro de 2003, os dez policiais civis foram condenados a uma pena total de 134 anos e seis meses de prisão pelo juiz da 3ª Vara de Tóxicos do Fórum Lafayette, José Eustáquio Lucas Pereira. Quatro PMs foram condenados. Hoje, Silvia Helena está no Programa de Proteção a Testemunhas (Provita), ganhou nova identidade e mora em uma cidade mineira. «Foi o caso mais estarrecedor de toda minha carreira, pelo fato de condenar policiais por tráfico», avaliou o juiz José Eustáquio Lucas Pereira. Qualquer denúncia contra policiais é sigilosa e deve ser feita à Ouvidoria pelo telefone 0800-2839191 (C.C.).

Abandonados pela corporação

Os olhos vermelhos e as olheiras pela falta de sono, mãos trêmulas e agitadas, e a inquietude de um andar constante descrevem uma pessoa bem diferente do cabo M., que entrou para a Polícia Militar aos 20 anos, em 1986. Um homem com disposição para enfrentar o crime e as situações de alto risco da profissão. Insone, deprimido, com a mente atormentada pelas lembranças das guerras diárias contra traficantes, da carnificina do trânsito e perda de colegas, o militar está afastado há quatro anos, fazendo tratamentos psiquiátricos.

Foi em uma de suas estadas no Hospital Espírita André Luiz, onde 70% da ocupação da área psiquiátrica é de policiais militares, que ele trouxe relatos impressionantes do sofrimento dos parceiros dependentes de drogas e álcool, além de críticas contundentes à corporação.

«Estou acabado. Tenho 40 anos e estou acabado. Não consigo dormir. Sonho e lembro direto de pessoas mortas, mutiladas, de crianças, de parceiros de 19 anos mortos por bandidos. Minha vida com a família está acabada. Nunca tive apoio da corporação. Aliás, muitos policiais escondem esses problemas do resto do quartel. Primeiro, porque você não consegue apoio, acompanhamento psicológico, nem licença para tratamento. Segundo, porque fica exposto e é descriminado pelos colegas. Aí, o cara (PM) cai no álcool mesmo. Se envolve com drogas, fica nervoso, tenso no meio das operações, comete erros», enumera M. (M.P.).

Serviço secreto

Dentro do Hospital Psiquiátrico, a maioria dos policiais envolvidos com drogas era de homens do serviço secreto da corporação. «Era mais o pessoal da ’P2’, infiltrado em gangues e quadrilhas barras pesadas. Os caras (policiais) contavam que os vagabundos consumiam e, mesmo desaconselhados pela polícia, eles acabavam usando também. Era para não levantar suspeitas, né. O cara acha que consegue controlar. Usa, usa, usa e depois, quando sai daquilo, tendo acabado o serviço ou não, já está viciado. Aí, é o inferno. O preconceito dos colegas. Acaba com a vida do sujeito», afirma o cabo.

De todos os problemas que afligem os militares, o alcoolismo era o mais visível. «Foi o que mais eu vi lá. Só que tinha alcóolatra que começou a beber desmedido por falta de suporte mesmo. Para se ter uma idéia, não me aposentaram até hoje. Quando ia para as operações, ficava mais afastado. Se precisasse, atirava, no calor do momento», confessa.

De acordo com o assessor de imprensa da Polícia Militar, tenente-coronel Alexandre Salles, policiais recebem orientação psicológica. No entanto, ele não dispunha de dados e alegou não interessar à corporação a divulgação do trabalho nos hospitais psiquiátricos que cuidam de PMs (M.P.).

Apreensões de drogas

Resultado do trabalho das polícias em Minas Gerais

POLÍCIA FEDERAL (MG)

2005

Cocaína/crack - 83,01 kg

Maconha/Haxixe - 430,09 kg

Ecstasy - 1.198 comprimidos

2006*

Cocaína/crack - 138,53 kg

Maconha/Haxixe - 1.070,02 kg

Ecstasy - 52 comprimidos

EM BELO HORIZONTE

2005

Cocaína** - 25,75 kg

Maconha e Haxixe - 61,08 kg

2006 (*)

Cocaína/crack - 71,97 kg

Maconha e Haxixe - 593,12 kg

(*) até 31/05/2006


POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

2005

Maconha - 83 kg

Cocaína - 2,5 kg

Crack - 0,625 kg

POLÍCIA CIVIL

2005

Maconha - 697,27

Cocaína - 42,34

Haxixe - 11,60 gramas

2006 (até 5/5/06)

Maconha - 2.459,66 kg

Cocaína - 28,141 kg

Haxixe - 146,50 gramas

Armas - 56

COMANDO DOS BATALHÕES ESPECIALIZADOS DA PMMG

2005

Apreensões - 1.101

Ocorrências de tráfico/uso de drogas - 1.973

Maconha - 595,135 kg/ 8.305 buchas

Crack - 79,165 kg/17.870 pedras

Cocaína - 25,019 kg/ 2.803 papelotes

Armas de fogo - 1.785

Prisões - 7.087

2006 (até maio)

Presos - 2.789

Apreendidos (menores) - 479

Armas de fogo - 1.003

Maconha - 603,91 kg/ 4.456 buchas

Crack - 19,9 kg/ 6.569 pedras

Cocaína - 4,615 kg/ 2.187 papelotes

COMANDO DO POLICIAMENTO DA CAPITAL DA POLÍCIA MILITAR (CPC-PMMG)

2004

Ocorrências por posse de tóxico - 2.971

Ocorrências de tráfico - 1.057

Armas de fogo - 1.962

Armas brancas - 2.278

Prisões - 27.760

Apreensões (menores) - 9.422

2005

Ocorrências por posse de tóxico - 3.637

Ocorrências de tráfico - 1.489

Armas de fogo - 1.616

Armas brancas - 1.057

Prisões - 29.695

Apreensões (menores) - 6.018

OPERAÇÕES POLICIAIS DO CPC

(Janeiro a maio)

2005 2006

Operações policiais

46.359 61.392 (aumento de 61.392%)

Incursões em favelas

2.750 4.112 (aumento de 49,53%)









(Pastor carioca Marcos Pereira da Silva prega para presas da 16ª Delegacia Distrital de Belo Horizonte)

(HOJE EM DIA - 24/06/2006)

Em celas superlotadas, luta pela reabilitação

Mateus Parreiras

REPÓRTER

Nas abarrotadas penitenciárias mineiras, os presos encontram poucas chances de reabilitação. Mas alguns acabam deixando de comercializar drogas, após o trabalho de conversão feito por religiosos. A Secretaria de Defesa Social incentiva o trabalho de igrejas nos locais, por acreditar que ele ameniza o clima de tensão entre os detentos.

Preso no Departamento de Investigações (DI) da Polícia Civil por tráfico de crack na Rua Santos Dumont, quando foi flagrado por uma das câmeras do sistema de vigilância Olho Vivo, há seis meses, Adriano Ferraz dos Santos, 18 anos, se diz arrependido do que fez. «Era viciado em cocaína desde os 17. Comecei fumando maconha com os colegas de colégio. Agora, um religioso que esteve aqui me fez ver que na ânsia da droga precisei de cada vez mais e que fiz coisas erradas. Por isso tenho de pagar».

Enrolados em cobertores sujos sobre o chão frio das oito celas escuras e superlotadas do DI, «soldados» e «aviões» do tráfico de drogas presos em condições precárias e humilhantes reclamam da falta de visitas, de contato com advogados e do frio nas masmorras do subsolo do departamento. Tossem e espirram dentro das celas superlotadas.

«Assim não dá para pensar em reabilitar não. Traficava porque minha vida era horrível. Morava numa casa fodida e minha mãe e meus seis irmãos passavam fome. Queria o dinheiro para ter as coisas. Roupas chiques, ficar bonito para as meninas. Mas ai fui preso quando ia jogar futebol. Tinha 14 pedras de crack e a Rotam me pegou. Revistaram e acharam. Me deram umas porradas. Me pediram R$ 5 mil para liberar. Preferi não pagar, porque é melhor pagar na delegacia. Mas o delegado não fez jogo e desci aqui pro DI», lembra L., preso na Zona Norte da cidade no mês passado.

Promotor vê «tráfico controlado»

A situação do tráfico de drogas em Belo horizonte está sob controle, pois a polícia ainda tem acesso a todas as favelas e não se tem notícias de armas pesadas nesses locais. A avaliação é do promotor de Justiça Jorge Tobias de Souza, coordenador da Promotoria de Tóxicos de Belo Horizonte há dois anos, onde atua com outros cinco promotores na avaliação dos processos que tramitam nas três Varas de Tóxicos do Fórum Lafayette.

«Ainda estamos longe das situações vividas em São Paulo e Rio de Janeiro. O Governo do Estado tem investido em suas polícias, que têm realizado bom trabalho, com apreensões de drogas e prisões de traficantes. Mas o trabalho pode melhorar», afirma. Souza já foi policial militar e atuou nos morros cariocas antes de ingressar no Ministério Público Estadual. «Posso dizer que a situação em Belo Horizonte não se compara à do Rio de janeiro, pois, como capitão da PM, subi várias vezes os morros cariocas», garante.

Ele elogia os trabalhos desenvolvidos pelas polícias e medidas como o «Olho Vivo» - sistema de monitoração de câmeras eletrônicas que reduziu em 40% a criminalidade no hipercentro de Belo Horizonte, estendido para outras cidades. Souza também adverte para o que ele chama de fragmentação do tráfico de drogas, que são pessoas que, sem antecedentes criminais, mas por por falta de empregos, acabam vendendo pequenas quantidades de droga. «Essa é uma situação que tem chamado a atenção em Belo Horizonte», explica o promotor.

Com relação ao alto número de mortes e prisões de «aviões», enquanto a prisão de traficantes importantes é coisa rara, o promotor faz uma comparação: «Numa guerra, você não vê nenhum general morrer, só os soldados. É isso que acontece também no mundo do tráfico, os pequenos traficantes é que ficam na linha de frente, têm mais visibilidade», compara.

Para o promotor, o grande traficante não tem contato com a droga e não será preso nesse caminho. Ele só será preso por investigações que abordem os crimes do sistema financeiro, por lavagem de dinheiro e aplicação financeira em nome de terceiros.

(HOJE EM DIA - 25/06/2006)

Droga sintética seduz jovem de classe média

Mateus Parreiras

Repórter

Envoltos pela escuridão fria da madrugada, dançando até o amanhecer, embalados por um som hipnótico superpotente - o chamado bate-estaca -, jovens de classe média se envolvem com perigosas misturas de drogas sintéticas. As chamadas rave, que invariavelmente varam a madrugada e seduzem cada vez mais adolescentes. No mês passado, no Rio de Janeiro, 40 deles foram presos pela polícia quando seguiam, em um ônibus, para um desses eventos. Todos portavam drogas. Em 2005, pelo menos três rapazes que traficavam em raves de Minas foram denunciados à Justiça. Apenas dois foram condenados, mas cumprem pena em regime aberto.

Para mostrar como o consumo e a circulação das drogas são marcantes nessas ‘baladas‘, o HOJE EM DIA foi conferir a rave «Infected Mushroom», no Mega Space, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Naquela madrugada do dia 28 de maio, o público era superior a 10 mil pessoas. No meio da multidão, o traficante V comercializava drogas abertamente, com ajuda de três parceiros. Os jovens que freqüentam as raves, geralmente montadas em locais afastados e amplos para evitar controle maior das autoridades, chegam sempre em grupos. A «Infected Mushroom» começou às 23h30 de sábado, mas a maior parte do público chegou por volta das 3 horas do dia seguinte.

V. estacionou seu caro num local escuro. Um movimento intenso de grupos de jovens zanzava de um lado para o outro. Entre os veículos, no caminho para a portaria, havia uma roda de rapazes bebendo cerveja, exclamando repetidamente, aos risos: «Baleiro! Baleiro! Eu quero um baleiro!». «Aí, estão querendo comprar ecstasy», respondeu V, que preferiu não se expor do lado de fora, onde o policiamento era mais presente.

Já dentro do local da festa, a poucos metros da ampla pista de brita, uma grande fogueira afastada aquecia um pequeno grupo. A maioria do público se concentrava na pista, dançando freneticamente, como se estivesse numa espécie de transe coletivo. No ar, o cheiro característico de drogas, sobretudo de maconha, desafiava seguranças e policiais. Três PMs abordaram um rapaz de chapéu que havia acabado de fumar um baseado com sua turma. Os demais dispersaram quando os policiais se aproximaram. O jovem de chapéu foi revistado, mas logo liberado, apesar do cheiro forte da erva. Seus amigos voltaram em seguida, dando tapinhas em suas suas costas, rindo e caçoando dos militares.

A festa avança. Luzes multicoloridas remetem a um clima futurista e complementam o transe da galera. Garrafas de água são consumidas vorazmente. V explica que o consumo exagerado de água tem relação direta com o ecstasy, «É uma droga que deixa a gente com muita sede. A boca prega, muito mais do que maconha», disse.

As namoradas M, 22, e T, 24, freqüentam «baladas» do gênero há pelo menos cinco anos, quando iniciaram o romance. Desde então, usam drogas largamente, justificando que, assim, entram no clima da festa. «Quando comecei a freqüentar festinhas já fumava maconha e bebia vodca. Aqui conheci o haxixe, a cocaína, o ’doce’ (LSD) e a ’pastilha’ (ecstasy), entre outras drogas», disse a primeira.

Perguntada sobre que tipo de droga haviam consumido naquela noite, T respondeu que fumaram haxixe e tomaram ecstasy dissolvido em uma garrafinha d’água. «Uma vez fui presa com um ’back’ (baseado), caí no 16 (artigo do Código Penal relativo ao usuário)», lembrou. Segundo M, os efeitos do ecstasy combinam com o estilo da festa. «A gente viaja nas luzes e nos sons, no movimento das pessoas. Fora a sensação gostosa que corre no corpo. Dá vontade de abraçar todo mundo que está em volta, de encostar em quem se gosta. É por isso que é a droga do amor», definiu.

Violência gratuita e perda dos sentidos

Ao amanhecer, o traficante C reparte um LSD entre quatro amigos no meio da pista. Quase sincronizados, os jovens levantam seus óculos escuros. O cheiro da maconha está mais acentuado. Todos se desvencilham dos agasalhos suados, mas não param de dançar. C pára ao lado de um homem de cabeça raspada, camiseta branca e óculos escuros, que dançava bruscamente, com um sorriso travado, junto com outros amigos, três homens e duas mulheres, uma loira e outra morena. Alguns minutos depois, o cabeça raspada discute com elas. Esbraveja, grita alto e ameaçadoramente. Chuta brita na direção das mulheres, que correm temendo uma agressão física ainda mais extrema.

«Vai! Vai embora mesmo suas vadias! Vocês precisam de mim mesmo!», berrou. Quando elas se perdem na multidão, o cabeça raspada se volta para os amigos. Todos riem exageradamente. Pouco depois, as duas mulheres voltam a se aproximar do agressor, com fisionomias resignadas, fazendo-o voltar a rir delas. «Este é um dos maiores malas (traficantes) de pó (cocaína) da Zona Sul de BH», revelou C à reportagem.

Algumas horas antes do final da festa, o estrago causado pela maratona de drogas e dança que atravessaram a madrugada e seguiu sob o sol escaldante apresentou suas vítimas. Rapazes e moças são atendidos na enfermaria com sintomas de desidratação. Sobre a brita já quente, muitos jovens deitados foram socorridos, um deles, desacordado, foi levado de ambulância. A organização do evento informou que naquela noite havia 110 seguranças, 48 policiais militares, nove civis e oito agentes do Juizado da Infância e da Juventude. Foram detidas três garotas com identidade adulterada e nenhuma droga foi apreendida. Outras três raves estão previstas para o mesmo local até o final deste ano.

Origem

As festas rave surgiram em 1980, junto com o movimento cultural acid house de Chicago, Nova Iorque e Reino Unido. O nome adotado é inspirado em um festival caribenho realizado na década de 1960. Nos eventos de hoje, os freqüentadores dançam músicas eletrônicas como tecno, trance, drum’n’bass, entre outros. A festa pode durar até mais de um dia. Tudo na rave é montado para que o público entre em uma espécie de transe. O ambiente é decorado com cores marcantes e objetos psicodélicos harmonizados com luzes multicoloridas e lasers. Malabaristas, pirofagistas, acrobatas, dançarinos e artistas variados fazem performances. A diferença entre as raves e as apresentações em boates e clubes seria justamente a liberdade para que esse transe dure mais tempo.

Com o amanhecer, César e os amigos repartem dois LSDs que tinham entre os quatro amigos e os engolem na pista mesmo. Quase sincronizados, os jovens levantam seus óculos escuros. A fumaça cinzenta dos cigarros de maconha são mais visíveis. Todos se desvencilham dos agasalhos suados, sem cessar a dança.

Cesar pára ao lado de um homem de cabeça raspada, camiseta branca e óculos escuros, que saltava e se movimentava bruscamente, com um sorriso estático, junto com outros cinco amigos, três homens e duas mulheres, uma loira e outra morena. O informante cochicha várias vezes no ouvido do seu amigo e eles riem juntos. Alguns minutos depois, o rapaz de cabelo raspado discute com as mulheres. Esbraveja com elas com cara de zangado. Elas se afastam juntas. Ele grita mais alto e ameaçadoramente. Começa a chutar a brita do chão sobre as duas jovens bem vestidas, que correm para não serem atingidas pelas pedras.

«Vai! Vai embora mesmo suas vadias (sic)! Vocês precisam de mim mesmo», berrou para elas depois de tê-las afugentado. Quando elas partem, o homem de cabelo raspado olha imediatamente para os amigos, e todos riem exageradamente. Pouco depois, as duas voltam para perto do jovem agressor, com as fisionomias resignadas, fazendo-o voltar a rir delas. «Este é um dos maiores malas (traficantes) de pó (cocaína) da Zona Sul de BH», revelou Cesar, depois de ter se afastado do grupo.

Algumas horas antes do final da rave, o estrago causado pela maratona de drogas e dança que atravessou a madrugada e seguiu sob o sol escaldante apresentou suas vítimas. Rapazes e moças são atendidos com princípio de desidratação na enfermaria. Sobre a brita quente, muitos jovens deitados foram atendidos, um deles levado em ambulância. A organização do evento disse que havia 110 seguranças, 48 policiais militares, nove civis, e 8 agentes do juizado de menores no Mega Space. Foram detidas três garotas com identidade adulterada e nenhuma droga foi apreendida. A maioria dos casos atendidos na enfermaria, ainda de acordo com administração, foi de desidratação. haverá ainda três raves no espaço, neste ano.

O QUE É

As festas «Rave» começaram em 1980, junto com o movimento cultural ‘acid house‘ de Chicago, Nova Iorque e Reino Unido. O nome adotado é inspirado em um festival caribenho realizado na década de 1960. Nos eventos de hoje, os freqüentadores dançam músicas eletrônicas como tecno, trance, drum’n’bass, entre outros. A festa é longa, geralmente varando a madrugada até a manhã do dia seguinte, mas pode durar até mais de um dia. Tudo na rave é montado para que o público entre em uma espécie de transe. O ambiente é decorado com cores marcantes e objetos psicodélicos harmonizados com luzes e lasers. Malabaristas, pirofagistas, acrobatas, dançarinos e artistas variados fazem performances.

A diferença entre as raves e as apresentações em boates e clubes seria justamente a liberdade para que esse transe dure mais tempo. De acordo com o DJ Mob, de Belo Horizonte, nas raves o público fica mais descontraído. «É muito melhor um evento open air. As pessoas se soltam mais, porque não ficam trancadas dentro de uma boate. Não tem hora para acabar, há mais liberdade para montar as decorações e a estrutura. Tudo isso reflete nas músicas, no jeito de tocar. Dá para sentir a empolgação do público fluindo», acredita.

Anfetaminas na guerra

O mundo começa a pensar na redução de danos. Na década seguinte, em 1930, os Estados Unidos passam a proibir a maconha. Quase todos os países Ocidentais fazem o mesmo. Entre 1939 até 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, o hábito de fumar foi impulsionado. A tensão de participantes da guerra era tirada pelo cigarro. Na década de 1940, os primeiros pesquisadores que procuravam entender o LSD sugeriram que ele simulava um surto psicótico nas pessoas saudáveis.

(HOJE EM DIA - 26/06/2006)

SUS gasta apenas R$ 1,5 ao ano por paciente drogado

Mateus Parreiras

REPÓRTER

Apesar de considerado caso de saúde pública e até mesmo uma epidemia, o dinheiro investido pelo Sistema Unico de Saúde (SUS) no tratamento de dependentes químicos e de álcool é ínfimo. No ano passado, a média de gasto por paciente foi de R$ 1,52. Como havia 836.162 usuários registrados nos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-ad) e hospitais conveniados, o investimento total foi de R$ 15,3 milhões no país. Em Minas Gerais, a média dos procedimentos hospitalares do SUS foi de R$ 14 mensais por dependente em tratamento, ou R$ 18,5 milhões no total. Para se ter uma idéia de quanto o valor é irrisório, o remédio psiquiátrico mais barato encontrado nas farmácias, o Gardenal 100 miligramas, com 20 pílulas, custa R$ 3,75 e dura menos de um mês.

Ministério da Saúde e a Subsecretaria Antidrogas consideram a dependência de álcool e drogas um problema de saúde social, não apenas pelos males físicos e psicológicos que causam aos usuários, mas também devido a reflexos na violência urbana, mortes no trânsito e desajustes familiares. A estimativa do ministério é de que 50% dos acidentes de veículos com vítimas envolvam motoristas que consumiram bebidas alcoólicas. Cerca de 9% dos brasileiros têm dependência do álcool e precisam de tratamento. E ainda, 30% das pessoas acima de 15 anos fazem uso nocivo do álcool.

O coordenador de saúde mental do Ministério da Saúde, Pedro Gabriel Delgado, diz que o gasto não é tão pequeno a ponto de desamparar o usuário. «Estes gastos não levam em conta o que é investido em programas como o Saúde da Família e programas de assistência básica. O programa de tratamento do SUS prevê internações breves em hospitais gerais. Sabemos que há poucos Caps-Ad. São 110 em Minas Gerais. Mas sua implantação depende de envolvimento dos municípios, pois são eles os gestores», justifica. Segundo ele, os Caps-ad têm de ficar próximos à comunidade para o tratamento sem internação, com a perspectiva de redução de danos, unindo a prevenção ao trabalho.

De acordo com a chefe da Divisão Assistencial do Centro Mineiro de Toxicomania - que é um Caps-ad -, Maria Wilma dos Santos Faria, o tratamento não se restringe ao uso de remédios. «Fazemos a pessoa acreditar que seu eu é mais forte que a química. O doente precisa descobrir por que motivos usa a droga para só então se desvencilhar dela», disse.

A Subsecretaria Antidrogas de Minas admite ter recebido, desde 2003, apenas R$ 10 milhões do Estado para investimentos na prevenção e assistência de toxicômanos. «É pelo álcool que os jovens estão começando a ingressar nas drogas. Temos a necessidade de melhorar as informações científicas. Precisamos investir mais nos dados científicos, não apenas nas imagens aterrorizantes, nas evidências da ação da droga no organismo. Programas como o Concurso de Frases e Desenhos, que envolve 40 mil crianças. Na estrutura da Secretaria de Educação, temos o «Tá na roda», o Programa Afetivo Sexual», enumera o subsecretário.

A classe média sobe o morro em busca de crack e cocaína

«Cheguei de madrugada na boca de fumo, sem dinheiro. Pedi para o cara a droga (crack). Ele ficou neurado (furioso). Disse para dar a camisa, a bermuda e o tênis. Me deu um short rasgado em troca de uma mixaria. Fui embora com frio. Os vizinhos que viram comentaram: Aquele menino lá é viciado em crack e vende as coisas de casa. Não dá sossego para os pais». O relato de V., 24 anos, morador da Região Centro-Sul, mostra que o crack, que parecia relegado às periferias, atingiu em cheio a classe média. Ele é um dos 53 internos da comunidade terapêutica Crer-Vip, onde a maioria dos pacientes de classe média tratam a dependência.

A primeira vez de cada um e a escalada entre várias drogas é a repetição da mesma história. A curiosidade, o ímpeto adolescente e as más companhias, somadas, afundaram jovens estudados, que teoricamente tiveram mais oportunidades pela condição financeira. «Foi aos 14 anos que comecei a fumar maconha. Um colega conseguiu um pouco e agente começou a fumar», lembra V..

«Com 17, cheirei cocaína com uma galera. Aproveitamos que os pais de um colega tinham viajado. Uns caras cheiravam carreiras sobre a capa de um CD. Vi o pessoal cheirando, e depois saindo agitado, dançando. Quis ver como era a onda e experimentei», conta V.

Aos 19 anos, conheceu o crack. «Fui à casa desse mesmo amigo. Bati na porta. Ele e os outros colegas estavam estranhos. Não me deixavam entrar. Insisti. Tinha R$ 30 no bolso. Vi eles assentados no chão fumando na lata de cerveja. Pedi para experimentar, mas resistiram. ’Não faz isso não que você vai viciar’. Não dei nem idéia. Quando fumei, me senti igual a um bicho. Escutava coisas. Quando acaba, vem uma puta depressão», afirma o jovem. Em poucas horas, os R$ 30 foram gastos.

Viciado, V. passou a subir ele mesmo a Pedreira Prado Lopes para comprar crack. «Quem busca é aplicado (recebe de graça), e eu já estava cabeção (quando precisa de doses cada vez maiores). Consumia tanto que não aguentava mais pagar. Comecei a vender minhas coisas», disse. Foi quando os pais desconfiaram. Achavam que era só maconha. Aí, começaram a sumir coisas em casa. «Inventava que tinha sido roubado ou que tinha perdido o que vendia. Minha mãe disse: ’Está acontecendo alguma coisa estranha com você, meu filho. Sua fisionomia está mudada». Depois foi o pai. «Os vizinhos tinham me visto sair com o DVD e contaram para ele. Aí desabafei: ’Pai, estou usando crack e não estou conseguindo mais controlar’», confessou.

Com apoio dos pais, V. foi internado em uma clínica, mas fugiu nos primeiros sintomas da abstinência. «Enganei meu pai. Disse que tava bom, que tinha melhorado, só que não estava». Assim como ele, depois do primeiro tratamento, e de algum tempo sem o uso, os jovens entrevistados acabaram encontrando companheiras e formando famílias.

Mas muitos chegam à instituição sob efeito do entorpecente, como H, 30 anos. «Cheirei cinco gramas de cocaína em uma hora. Entrei alucinado. Me trataram super bem. Mas, no início, tudo era ruim. A comida era ruim, ficar aqui era ruim. Com cinco dias me deu uma crise de abstinência. Resolvi pular o muro da quadra, de uns quatro metros. Pulei. Quebrei os dois joelhos. Foram 40 dias engessado, tempo para pensar que não era para estar aqui. Não precisava passar por isso». Com o restabelecimento de uma rotina de horários, de nove meses de atividades, conselhos e tratamento psicológico, os jovens resgatam aos poucos seu controle e consciência.

3 comentários:

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Repórter do jornal Hoje em Dia, o jornalista Mateus Parreiras cobre o dia a dia do estado no caderno Minas (cidades) e produz também reportagens especiais. Formado em 2004 pelo UNI-BH, e desde setembro daquele ano no Hoje em Dia, o jornalista já conquistou o I Prêmio de Jornalismo de Interesse Público 2007 do Sindicato dos Jornalistas de MG, o Prêmio Crea-MG 2006, Volvo 2006 e foi três vezes finalista do Prêmio Embratel, em 2005, 2006 e 2008.

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