Projeto Infiltrado (Desde abril de 2007)

Será que um Projeto considerado perfeito, acima da Lei e corrupto, já não conta com infiltrações em seu âmago? Ou há um plano de comentar bastidores e posições dos que arquitetam essas manobras, sem filtros e de forma crítica? Pode ser que haja um esquema pronto para infiltrar nesses sindicatos negros e trazer a público o que muitos não sabem por acontecer nesses bastidores. Ao descobrir o significado do Projeto Infiltrado, você pode colaborar para sua própria execução.


segunda-feira, 21 de maio de 2007

Infiltrado no ônibus de torcedores do Atlético que seguia para São Paulo

Fotos: Mateus Parreiras






Esta foi um desafio lançado. O chefe de redação, Rogério Perez, estava discutindo com uns colegas do Esporte sobre a cobertura da caravana do Atlético para São Paulo, contra o Santo André, na campanha do Galo para voltar para a primeira divisão. Juro que não ouvi direito o que eles diziam. Só lembro do Perez virar para meu lado e dizer: “Aposto que se precisar o ‘Parreira’ vai. Não vai Parreira?”

Na hora só disse que ia. Mas ele me olhava encarando e sério. Confirmei que ia para só depois saber que era para viajar junto com a torcida, nos ônibus cedidos pelo clube para Santo André.

Se não fosse a assessoria do atlético, não embarcaria, porque fui muito tarde para a fila conseguir meu lugar no ônibus. Mas foi bom porque deu para misturar com os torcedores e líderes de torcida.

Lembro que eles ficavam calculando quando chegariam em Santo André: “A gente deve chegar lá pelas 9 horas da manhã” disse um. “Bom que dá para a gente pegar as putas escovando os dentes nos puteiros”, respondeu outro.

A viagem foi muito desconfortável, longa e ainda tinha uma escolta infeliz que não deixou ninguém descer do ônibus, nem quando o banheiro estragou. Na volta, o ônibus ainda foi apedrejado. Mas quanto a isso a PM não fez nada.

Para falar a verdade, foi mais curioso do que perigoso...








(HOJE EM DIA - 16/10/2006)

Uma caravana embalada pela paixão

Mateus Parreiras

ENVIADO ESPECIAL

SANTO ANDRÉ - Os cerca de 1.200 atleticanos que seguiram para Santo André, no ABC Paulista, na madrugada do último sábado, protagonizaram uma verdadeira invasão à cidade de 660 mil habitantes. Nos 30 ônibus fretados pelo clube, cantaram, torceram, beberam e participaram de histórias de violência e embates entre torcidas e policiais. Para testemunhar todos estes acontecimentos, a reportagem do HOJE EM DIA seguiu incógnita em um dos veículos fretados. Em meio ao álcool, drogas, vibração, agressões e medo, um pouco da realidade enfrentada por quem cruza o estado para apoiar o time.

A saída dos ônibus, de trás da Praça da Estação, no Centro de Belo Horizonte, estava prevista para a meia-noite de sábado. Porém, na noite quente e tumultuada, cercados por um forte aparato de guardas municipais e policiais militares, os torcedores que seguiriam para o ABC preferiram beber e cantar, no meio da praça, ignorando o horário de saída dos carros. A simples reunião deles se tornou motivo para celebrar e afinar os cânticos de incentivo.

Quem procurava pelo transporte teve dificuldades para encontrar o ônibus em que embarcaria, devido à forma caótica em que os veículos estavam dispostos, sem placas de identificação. O jeito era perguntar na porta de cada um: «Que ônibus é este?». «Número seis da Galoucura», ou «Número dois do Esquadrão Atleticano», respondiam passageiros aglomerados nas portas dos carros. Uma senhora, de 70 anos, «dona Maria Pretinha», como é conhecida entre os atleticanos, chorava muito e implorava na porta de um dos ônibus.

«Deixa eu ir ver meu Galinho», pedia. Os coordenadores do comboio queriam vetá-la, com uma explicação: «A senhora passou mal na viagem a Ipatinga e só embarca com atestado médico», afirmaram. Depois de muito argumentar e de conquistar o apoio dos demais torcedores, a senhora conseguiu entrar, feliz da vida, disparando maldições contra os paulistas. «Bica eles, meu Galinho», berrava.

Somente com a chegada de uma fina chuva gelada é que os torcedores resolveram embarcar. Trajados com o tradicional uniforme listrado em preto e branco, enrolados em bandeiras, vestindo chapéus irreverentes com cristas vermelhas e perucas alvinegras, trataram de esvaziar os carrinhos dos ambulantes espalhados pela praça, comprando todas as latas de cervejas possíveis.

Entoando o hino e confiantes na vitória, tomaram as janelas dos coletivos e seguiram fazendo festa. «Vamos subir, Galô», «Vai pra cima deles, Galô», «É Galo doido». Cada um dos veículos fretados que passava elas janelas do ônibus onde a reportagem seguiria, deixava seu grito de guerra e tomava lugar no comboio. Dentro do veículo, que começou a se movimentar, todos rezaram uma Ave Maria e um Pai Nosso. Só ficou no corredor quem queria beber e conversar. O resto se acotovelava nas janelas. Carros que passaram pela Avenida do Contorno buzinavam apoiando os aventureiros. A massa, em êxtase, não parecia se importar com os 600 quilômetros e mais de oito horas de viagem programados.


Aventura regada a cerveja quente

A madrugada seguiu sem maiores problemas. Cada parada feita pelos militares irritava os torcedores. Mas nenhum dos policiais chegou a entrar nos carros. Limitaram-se a organizar o comboio. Passados poucos minutos e a cantoria voltava a todo pulmão. A turma do fundo só parava de beber para pegar outra latinha de cerveja ou dar uma bicada no vinho ou na cachaça. Mesmo quando as bebidas já estavam insuportavelmente quentes, devido às horas de viagem sem geladeira, a cerveja comprada na praça ainda foi consumida. Até acabar.

Por volta das 4 horas de sábado, os passageiros começaram a protestar contra um dos colegas, que interditou o banheiro com sua diarréia. Apertados, torcedores foram à cabine do motorista pedir para parar em algum posto. «Não podemos parar. Só quando deixarmos Minas Gerais e a polícia militar», respondeu o condutor. O jeito foi encarar o mal-cheiro.

A vontade de todos era parar em algum posto de beira de estrada para comer, esticar as pernas e fazer sua higiene. Porém, assim que os carros em fila deixaram o estado, foram interceptados em Guarulhos pela Polícia Rodoviária Federal. Mais uma vez escoltados, tiveram de esperar a chegada ao Estádio Municipal Bruno José Daniel.

A entrada em São Paulo, capital, trouxe novo ânimo aos torcedores. Voltaram a cantar e a provocar os paulistanos. «Essa é de rir, o Galo vai subir e o Corinthians vai cair», berravam, entre palavrões e gestos agressivos. Os paulistas responderam com sorrisos ou gestos malcriados. Um grupo, que jogava futebol num campo de várzea de uma favela, começou a perseguir os ônibus pelo passeio da avenida, chamando os atleticanos para a briga.

Depois de parar quatro vezes por determinação policial, mais atrasos. O grande número de ônibus se perdeu pelas avenidas e elevados de São Paulo. Carros do mesmo comboio se cruzavam em mãos de sentido oposto procurando indicações do caminho para Santo André - cidade a apenas 18 quilômetros da capital. Mais de uma hora depois, logo na entrada da cidade, os alvinegros avistaram faixas convocando os torcedores do Santo André para a partida, que intitularam «Jogo do ano»


’Arerê, nós vamos invadir o ABC’

A visão do pequeno Estádio Bruno José Daniel, com capacidade para 18 mil pessoas, suscitou inúmeros deboches dos atleticanos, acostumados aos jogos no Mineirão. Assim que os carros pararam no estacionamento, ao lado do campo, a invasão se concretizou. Uma multidão alvinegra tomou as ruas e avenidas às centenas, com objetivos claros: encontrar bares para comer e voltar a beber cerveja gelada.

Sem nenhuma cerimônia, instigavam os habitantes locais, assustados com todo aquele movimento. «Arerê, nós vamos invadir o ABC», cantavam os atleticanos. Em questão de minutos, todos os bares e padarias das redondezas ficaram abarrotados de torcedores ávidos por cerveja e consumindo os pratos feitos do dia. Nas esquinas sem policiamento, em plena manhã de sábado, grupinhos fumavam cigarros de maconha sem nenhum pudor com crianças e mulheres. Devido ao grande número de pessoas, muitos estabelecimentos foram alvos de calotes. Aqueles que tinham freezers próximos às calçadas acabaram sendo saqueados.

A tarde chegou e os bares continuaram cheios, principalmente na Avenida Dom Pedro I, onde se concentra a maior parte deles na região do estádio. Policiais locais intensificaram suas patrulhas. Eram recebidos com cantorias cada vez mais altas. Carros passavam velozes, com torcedores de uniformes do Corinthians, São Paulo e Santos, xingando os alvinegros, que respondiam imediatamente. Os primeiros torcedores do Santo André que passaram pela torcida atleticana foram provocados agressivamente. Em menor número, e transformados em «forasteiros» dentro de sua própria cidade, seguiram seu caminho emudecidos e resignados. Não houve casos de agressões, apesar da ferocidade dos ataques morais dos mineiros.

Por volta das 15 horas, a massa de alvinegros começou o caminho para o estádio. Parecia que o Brunão era mesmo do Atlético. Varais de bandeiras e ambulantes paulistas faturavam vendendo faixas e fitas do clube mineiro em volta do campo. Uma longa fila se formou nos portões de entrada. Era o início da grande festa da vitória do Galo por 2 a 1 sobre o Santo André, resultado que deixou o time de Levir Culpi muito próximo da volta à Série A.


Pedradas e clausura

Embriagados pelo álcool e a alegria da vitória, os integrantes do ônibus onde seguia a reportagem acabaram se atrasando. As jovens tentaram, até o anoitecer, coletar autógrafos dos atletas vitoriosos. Os rapazes vasculhavam os arredores atrás de ambulantes com cerveja para vender. Resultado: o comboio partiu, deixando para trás aqueles torcedores.

O motorista, impaciente, resolveu ligar o carro. Logo todos voltaram, correndo e cantando, e embarcaram. Sem os demais veículos para se orientar, o condutor acabou se perdendo diversas vezes. Rodava em círculos e percorria alguns metros de ré nas avenidas. Até que, ao passar por um viaduto escuro, e retornar nele para seguir na avenida abaixo, o ônibus passou a ser alvo de diversas pedradas. O som do impacto dos objetos contra a lataria e os vidros do veículo, silenciaram imediatamente os torcedores, que se entreolharam. Foram instantes que pareciam minutos, até que nova saraivada de pedaços de meio-fio e calçamento fizeram com que os mineiros se abaixassem, protegendo a cabeça.

Ninguém se feriu, mas os vidros do ônibus, inclusive o pára-brisa, ficaram estilhaçados. Todos apagaram as luzes, mas continuaram cantando. Lembraram outras vezes em que foram vítimas de ataques, alguns também contaram histórias de embates por eles provocados. Na saída da cidade, mais pedradas. O clima foi tenso até a saída de São Paulo.

Novamente em Minas Gerais, a Polícia Militar acompanhou o ônibus que ficara para trás. Mas não deixou ninguém sair dele até a chegada em Belo Horizonte, mesmo sob os protestos dos torcedores, senhores e senhoras, que imploravam para usar o banheiro nos postos de gasolina – o do veículo estava estragado - ou comer alguma coisa.

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PROJETO INFILTRADO

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Repórter do jornal Hoje em Dia, o jornalista Mateus Parreiras cobre o dia a dia do estado no caderno Minas (cidades) e produz também reportagens especiais. Formado em 2004 pelo UNI-BH, e desde setembro daquele ano no Hoje em Dia, o jornalista já conquistou o I Prêmio de Jornalismo de Interesse Público 2007 do Sindicato dos Jornalistas de MG, o Prêmio Crea-MG 2006, Volvo 2006 e foi três vezes finalista do Prêmio Embratel, em 2005, 2006 e 2008.

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